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VALE A PENA SABER/QUÍMICA
Luminol ajuda a desvendar o caso Isabella
LUÍS FERNANDO PEREIRA
ESPECIAL PARA A FOLHA
A não ser que você tenha morado em Júpiter nos últimos
meses, deve saber alguma coisa
(senão, muita coisa) sobre o caso da menina Isabella Nardoni.
Teriam sido mesmo o pai e a
madrasta que a mataram?
Uma das provas mais fortes
contra o casal é o sangue encontrado no carro da família,
que comprovaria que a garota
já vinha sendo agredida no caminho para casa. Para encontrar o sangue, mesmo que ele
não esteja mais visível, os peritos borrifam um líquido na suposta cena do crime -um brilho azulado denuncia: havia
sangue ali. Mas, como isso é
possível?
O líquido usado pela polícia
chama-se luminol, reagente de
fórmula C8H7N3O2, que é dissolvido em uma solução aquosa
básica em que também há água
oxigenada (H2O2). São esses
dois compostos que reagem
entre si produzindo a luz azul.
Esse tipo de reação é chamada
de quimioluminescente. Nela,
a energia é liberada na forma
de luz -em vez de calor, como
é mais comum.
Para você ter uma idéia da
sensibilidade desse teste, ele
consegue identificar manchas
de sangue em proporções mínimas, mesmo em locais muito
lisos, como azulejos e pisos cerâmicos, que tenham sido lavados várias vezes e ainda que já
tenham se passado alguns anos
da data do suposto crime.
Por isso, pôde-se facilmente
comprovar que uma fralda, encontrada no apartamento dos
Nardoni, teria sido usada para
limpar algumas manchas de
sangue (de Isabella?), ainda
que já tivesse sido lavada.
Por que o brilho azul só aparece onde há traços de sangue?
Lembre-se de que a reação que
gera a luz acontece entre o luminol e a água oxigenada -só
que ela é muito, muito lenta.
Mas pode ser catalisada, isto é,
acelerada, por alguns metais de
transição. E aí, vestibulando,
isso não lhe diz nada? Enquanto você pensa, vamos relembrar como funciona um catalisador.
Para que uma reação química aconteça, as partículas reagentes devem se chocar, certo?
Esse choque, por sua vez, deve
apresentar um mínimo de
energia para que leve efetivamente à formação dos produtos. Esse mínimo de energia,
chamado energia de ativação, é
diminuído pela presença de
um catalisador. Não entendeu
direito? Então veja essa comparação: imagine que você esqueceu as chaves de casa e precisa pular o muro para entrar;
só que o muro (a energia de ativação) tem 2,5 metros de altura. Aí você tenta, tenta, e, depois de alguns minutos, finalmente consegue pular e entrar
em casa. Se esse muro tivesse
só um metro, não seria mais fácil e rápido entrar (só não sei se
seria uma casa muito segura...)? Pois, então, a ação de um
catalisador é parecida: ele diminui a energia de ativação (a
altura do muro) e, assim, acelera o processo.
E aí, lembrou que há íons de
ferro II -um metal de transição- na hemoglobina do sangue? Por isso, a reação só é acelerada onde esses íons são encontrados, isto é, onde há traços de sangue. E só ali pode ser
vista a luz azul. Brilhante, não
é? O resto é com a Justiça.
LUÍS FERNANDO PEREIRA é químico formado
pela USP, leciona no curso Intergraus e é co-autor de "Planeta Química" (editora Ática)
lula7@terra.com.br
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