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DEU NA MÍDIA
Amazônia: preservar para não entregar
ROBERTO CANDELORI
ESPECIAL PARA A FOLHA
Publicada recentemente
no jornal "The New York Times", uma reportagem causou preocupação no país.
Com o sugestivo título "De
quem é esta floresta tropical,
afinal?", questiona a propriedade da Amazônia. Segundo
o diário, "um coro de líderes
internacionais está declarando mais abertamente a
Amazônia como parte de um
patrimônio muito maior do
que apenas das nações que
dividem o seu território".
Em abril, o relator da ONU
para o Direito à Alimentação,
Jean Ziegler, havia associado
a alta no preço mundial dos
alimentos à produção em
grande escala de biocombustíveis e acusou os produtores
de etanol de cometer um
"crime contra a humanidade". Sugeriu ainda que, no
caso brasileiro, o avanço da
cana estaria associado ao
desmatamento da Amazônia
e à substituição das áreas de
cultivo de alimento pela matéria-prima do etanol.
Expansão das áreas desmatadas, comércio ilegal de
madeiras e confrontos entre
milícias armadas por produtores rurais e índios em áreas
demarcadas: notícias negativas sobre a floresta reacendem a discussão sobre o seu
futuro e trazem à tona o tema da internacionalização
da Amazônia. Há algum tempo, o francês Pascal Lamy,
diretor da Organização Mundial do Comércio, manifestou o desejo de transformar a
área num "bem público
mundial" submetido a "regras de gestão coletiva".
A polêmica tese abre um
debate que confronta duas
visões. De um lado, a questão
da "soberania nacional", ou
seja, o direito inalienável de
o Brasil administrar soberanamente a Amazônia. De outro, vozes do Velho Mundo
reafirmam a noção de que a
floresta é espaço vital para a
saúde do planeta e, portanto,
deve ser administrada de forma compartilhada.
Para o Planalto, o que
ocorre é uma tentativa, orquestrada a partir de ONGs
internacionais e de membros
da Comunidade Européia, de
desqualificar o Brasil como
gestor soberano da Amazônia, além da recente estratégia de associar a alta no preço
dos alimentos à produção de
biocombustíveis e à devastação da floresta.
Para rebater esse argumento, o presidente Lula, em
recente reunião da FAO
(braço da ONU para Alimentação e Agricultura), afirmou
que: "99,7% da cana produzida no Brasil está a pelo menos 2.000 quilômetros da
floresta amazônica. Isto é, a
distância entre nossos canaviais e a Amazônia é a mesma
que existe entre o Vaticano e
o Kremlin". A mensagem parece alertar: antes de palpitar
sobre a gestão amazônica, há
que se tomar posse da realidade brasileira.
ROBERTO CANDELORI é professor do
colégio Móbile
rcandelori@uol.com.br
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