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TEATRO
Orlando Silva, Geraldo Pereira, Isaurinha Garcia, Clara Nunes, Gonzaguinha e Raul Seixas são temas de espetáculos
Grandes da MPB revivem em musicais no RJ
VALMIR SANTOS
ENVIADO ESPECIAL AO RIO
O besteirol segue como gênero
cativo nesses palcos, ora com tentativas de reinventar a si, ora com
mais do mesmo. Mas o que vem
dando samba na temporada carioca é o casamento dos musicais
com o cancioneiro da velha guarda e até da contemporaneidade.
Pelo menos seis peças em cartaz
recontam a vida invariavelmente
dramática de intérpretes daquela
cepa dos anos 1940 e 50, como Orlando Silva (1915-78), Geraldo Pereira (1918-55) e Isaurinha Garcia
(1923-93), ou de gerações mais recentes, como Clara Nunes (1943-83), Raul Seixas (1945-89) e Gonzaguinha (1945-91).
E há ainda uma exceção, um
atalho que só confirma a regra: a
bem-sucedida carreira do musical
"Ópera do Malandro", letra e música de Chico Buarque, mais um
projeto da dupla Charles Möeller
e Cláudio Botelho, com sessões
lotadas no teatro Carlos Gomes,
na praça Tiradentes, coração do
teatro de Revista no início do século 20, a matriz de tudo o que se
concebe como musical brasileiro.
A Folha reuniu intérpretes de
cinco produções para falar sobre a
"coincidência" dos musicais que
diz muito nas entrelinhas, segundo Jorge Maya, 39, protagonista
de "Geraldo Pereira, um Escurinho Brasileiro", no teatro de um
shopping. "Antigamente, havia
uma comunhão muito grande entre a música e o teatro. Ela foi congelada, talvez diluída pelo advento da televisão. Mas agora essa demanda está de volta", diz.
Como ele, os colegas Tuca Andrada, 39, no papel-título de "Orlando Silva, o Cantor das Multidões", na Sala Baden Powell, e
Alexandre Schumacher, 29, do
personagem buarqueano Max
Overseas, o rei da boemia na Lapa
dos anos 40, jogam suas fichas na
valorização do gênero.
Mais que isso: vislumbram vôos
para além dos musicais biografados, espécie de antecâmara. Ou
seja, a expectativa é pelo surgimento de autores esmerados em
versos cantados em cena, como o
compositor de "Construção" o fez
em suas incursões fundamentais
pela escrita teatral, vide "Gota
d'Água" e "Calabar", que configuram a clássica trilogia dos musicais brasileiros, aquela à qual o diretor mineiro Gabriel Villela chegou a recorrer para contrapor o
que via como mera reprodução
dos musicais da Broadway.
"Em breve, a gente não vai precisar mais pegar um John Gay,
um Brecht", diz Schumacher, citando autores montados com recorrência em vários países. Aliás,
o inglês John Gay e a dobradinha
alemã Kurt Weill e Bertolt Brecht
são criadores que inspiraram
"Ópera do Malandro".
"Há uma carência, não só nesse
tipo de dramaturgia, mas tudo indica que a gente está caminhando
para novos textos", diz Andrada.
Maya ressalva que as criações de
Chico ocorreram em plena efervescência cultural e política da década de 70. Daí a esperança do
ator para que essa onda descortine de fato um movimento e reafirme a vocação do brasileiro, no
palco e na platéia, para com os
musicais.
Se depender do ator Rick Garcia, 24, neto de Isaurinha Garcia,
diva da época de ouro do rádio no
país, tempos melhores virão. Ele
está no elenco de "Personalíssima", encabeçado por Rosamaria
Murtinho, e se diz um entusiasta.
"Os amigos, muitos da minha idade, não sabiam quem era a minha
avó", afirma.
"O público está muito heterogêneo, não se trata apenas de saudosismo", diz Maya. É questão também de memória. "O teatro musical é vivo por isso. Como é que a
bossa nova, por exemplo, explode
para o mundo, e a maioria das
pessoas daqui não sabe quem a
inspirou", coloca para a roda,
mais que porta-voz do mangueirense Geraldo Pereira, de quem
João Gilberto era admirador.
Até o mês passado, estava em
cartaz "Obrigado, Cartola!", homenagem a outro bamba vivido
por Flávio Bauraqui. "Até para
criar o novo a gente tem que andar um pouquinho para trás",
professa Roberta do Recife, a intérprete de Clara Nunes.
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