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Na contramão da crise da mídia, BBC investe em seu crescimento mundial e põe o Brasil na mira
A expansão do império britânico
LAURA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Crise? Enquanto grandes
redes de mídia padecem no
mundo todo, a BBC caminha na mão inglesa: quer superar o status de principal
rede pública da Grã-Bretanha e se firmar como conglomerado internacional de comunicação.
A estratégia de reforçar
mundialmente a marca da
British Broadcasting Corporation e de aumentar sua audiência em rádio, televisão e internet começa a surtir efeito em
vários países -inclusive nos
Estados Unidos e no Brasil, dois
de seus principais alvos.
Desde 2000, o Serviço Mundial da BBC, que transmite notícias de rádio em 43 idiomas para
150 milhões de ouvintes, tem recebido investimento mais agressivo da companhia. Quando o
jornalista Américo Martins, 35,
chegou ao departamento brasileiro da BBC, em 98, a equipe contava com 12 pessoas. O site da BBC
Brasil ainda nem havia sido criado (foi lançado em 1999), e os profissionais trabalhavam para os cada vez mais raros ouvintes de ondas curtas das rádios brasileiras.
"Hoje estamos com 40 profissionais na redação de Londres,
cinco no Brasil e cerca de 20 correspondentes internacionais", diz
Martins, diretor da BBC Brasil.
É um número recorde desde o
início das transmissões ao Brasil,
há 65 anos. E para 2004 já há planos de ampliar o escritório em
São Paulo e de produzir 12 horas
diárias de programação de rádio.
O orçamento anual do departamento brasileiro, segundo a Folha apurou, gira em torno de US$
3 milhões, e também é o maior
desde a sua implementação.
Segundo Martins, o português
para o Brasil está entre os oito
idiomas considerados prioritários nas diretrizes da BBC -árabe, chinês, russo e espanhol também fazem parte desse "G8".
O interesse dos britânicos pelo
Brasil se deve, principalmente, ao
fato de o mercado de mídia do
país ser um dos mais fortes e competitivos do mundo. "O Brasil é
importantíssimo tanto para nossos negócios quanto por suas notícias. Por isso, temos correspondentes no país", disse à Folha Nigel Chapman, vice-diretor do Serviço Mundial, funcionário da rede
inglesa há mais de 20 anos.
Há dez dias, ele esteve no país a
fim de visitar diplomatas, empresários, proferir palestra no Congresso Nacional e fechar novas
parcerias para rádios e internet.
Como a audiência em ondas
curtas é decadente, a BBC tenta
ampliar o convênio com AMs e
FMs. Atualmente, dentre as emissoras que transmitem seus programas estão a CBN, a Eldorado e
600 afiliadas da Radiobrás (estatal
de comunicação do governo).
O site www.bbcbrasil.com.br já
é o quarto no ranking de acessos
do serviço mundial, só perdendo
para o árabe, o persa e o espanhol.
Além de site e rádio, é transmitida
na TV fechada brasileira a BBC
World (canal internacional de notícias). Chapman afirma que há
planos de aumentar o número de
operadoras que carregam o canal.
Um brasileiro dirige pela primeira vez o Serviço Mundial da
BBC nas Américas. Há cerca de
um ano, Lúcio Mesquita, ex-diretor da BBC Brasil, tem em suas
mãos o comando da expansão da
rede no Canadá, Caribe, na América Latina e nos Estados Unidos.
Desde o 11 de Setembro, a BBC
experimenta um crescimento de
penetração norte-americana.
"Nos EUA, paramos de transmitir em ondas curtas entre 2000
e 2001 e estamos ampliando a parceria com AMs e FMs, principalmente as estatais, que detêm 10%
do mercado. Hoje temos convênio com cerca de 400 rádios e 4,7
milhões de ouvintes, 20% a mais
do que no ano passado", afirma.
Segundo ele, antes as emissoras
dos EUA costumavam transmitir
o conteúdo da BBC da meia-noite
às 5h, só para complementar sua
programação. Mas, com os ataques terroristas em Nova York e a
ofensiva em Bagdá, muitas permaneceram dias com o sinal da
rede inglesa ininterruptamente.
Isso gerou interesse da audiência
e trouxe os programas londrinos
para horários mais nobres.
Na TV, a BBC America -feita
exclusivamente para o país, com
notícia e entretenimento- foi
lançada há cinco anos e já está em
37 milhões de domicílios, quase
metade dos que têm cabo (há um
ano, eram 27 milhões).
Acordos recentes foram fechados com importantes estações de
rádio do Chile e da Argentina.
Calcula-se que haja mais de 11 milhões de ouvintes no continente.
Segundo reportagem da revista
"Time", a BBC teve, em 2002, um
rendimento de mais de 1,6 bilhão
de euros, 35% maior do que em
2000. Nesse ritmo de crescimento,
a empresa começa a incomodar
concorrentes de peso, como Rupert Murdoch, magnata da mídia,
cujo patrimônio inclui a rede de
notícias Fox News, dos EUA.
Ele está no grupo dos que questionam o fato de a BBC, mantida
majoritariamente por verba pública, desenvolver negócios puramente comerciais. A estrutura da
BBC é basicamente dividida em
três braços: serviço público de rádio e TV da Grã-Bretanha, serviço
mundial e a parte comercial.
A programação doméstica é
sustentada por uma taxa anual
cobrada de todos os domicílios
com TV paga, de 116 libras (mais
de R$ 560). O serviço mundial
tem seu orçamento bancado pelo
Ministério de Relações Exteriores.
Já o segmento comercial busca
recursos no mercado privado.
Dele fazem parte desde o canal
BBC World até a produção de documentários, comerciais e o desenvolvimento de tecnologia.
A BBC diz que são estruturas independentes e que todas as contas
são auditadas interna e externamente. Mas os críticos pressionam políticos para que a regulamentação seja mudada e a rede
perca privilégios. É a mais nova
polêmica dos 81 anos da rede que
vive uma relação de amor e ódio
com o governo britânico.
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