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MÔNICA BERGAMO
Chris von Ameln/Folha Imagem
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GABRIELA DUARTE A atriz acende incenso no camarim e não entra em cena sem jogar gotas de perfume no corpo; no balcão há fotos, um coelhinho (presente de Cristina Mutarelli), o livro "Divã", de Martha Medeiros, e um caderno de pensamentos
Espelho, espelho meu
O paulistano que gosta de teatro não precisa mais se
preocupar com sua agenda:
São Paulo poucas vezes apresentou uma temporada tão rica
quanto a exibida agora na cidade. Há nada menos do que 150
produções em cartaz, entre
montagens adultas, infanto-juvenis e infantis.
Da performance de Denise
Stoklos ("Vozes Dissonantes")
ao humor de Jô Soares ("Na Mira do Gordo") e Juca de Oliveira
("A Flor do Meu Bem-Querer")
passando pelo drama de Tony
Ramos ("Novas Diretrizes em
Tempos de Paz"), pelo musical
de Marília Pêra e pelo solo de
Paulo Autran ("Quadrante"), a
cidade se prepara para receber
nova leva de grandes atores.
VEM AÍ
Debora Bloch e Diogo Vilela
estréiam no dia 8 com "Tio Vânia". Debora Colker volta com
"Rota" nos dias 8, 9 e 10. No dia
15, Tônia Carrero estréia "A Visita da Velha Senhora" no Sérgio Cardoso. É pouco? Pois Regina Duarte deve começar a ensaiar em setembro.
PIQUE-PIQUE
Tônia Carrero, aliás, faz 81
anos no dia 23 -como o grande
amigo Paulo Autran, ela não esconde a idade. Os amigos já estão preparando um festão. E
que presente ela vai ganhar de
Autran? No ano passado, ele
deu a Tônia um anel de topázio,
cercado de turmalinas e brilhantes. Já ela deu a ele uma
Montblanc (Autran faz aniversário em setembro).
RECUO
A crise econômica, é claro,
atingiu o teatro. Pelos cálculos
da Apetesp (Associação dos
Produtores de Teatro de São
Paulo), houve uma queda de
40% na venda de ingressos em
relação a 2002. A crise provocou
um fenômeno curioso: até os
mais ricos têm procurado a entidade, que vende ingressos
com até 60% de desconto.
RIR É O REMÉDIO
A Apetesp está vendendo
8.000 bilhetes promocionais por
mês. Nas férias, o número chegou a 10 mil. A maior parte do
público, 70%, fica atenta às comédias; 15%, aos musicais; e os
outros 15%, aos dramas. Uma
boa peça pode chegar a ser vista
por 200 mil pessoas em um ano.
QUEM PODE PODE
As produções estreladas por
atores consagrados, é claro, escapam com mais facilidade da
crise. A peça de Juca de Oliveira
lotou nos dois finais de semana
em que está em cartaz, no Cultura Artística, onde cabem 1.156
pessoas. A peça de Tony Ramos
e Dan Stulbach, juntos na novela "Mulheres Apaixonadas", já
está com ingressos esgotados
para a próxima semana.
COFRINHO
Os preços dos ingressos em SP
são considerados altíssimos no
Rio. Já houve polêmica porque,
para ver "Intimidade Indecente", com Irene Ravache e Marcos Caruso, os cariocas tinham
que pagar R$ 50. É de Marília
Pêra o diagnóstico: ingressos de
mais de R$ 15 no Rio são a senha
para assustar o público.
MECENAS
É do diretor Jorge Takla (CIE),
que participa de sucessos como
"Sete Minutos", de Antonio Fagundes, e "A Bela e a Fera", entre outros, o diagnóstico: graças
aos patrocínios, os ingressos são
até baratos. Entrada de "A Bela e
a Fera" custa de R$ 40 a R$ 150.
Sem patrocínio, custaria R$ 300.
VAZIO
Takla acha também que está
mais difícil conseguir patrocínio, o que pode comprometer a
produção de 2004. Um espetáculo como o de Juca de Oliveira,
diz, custa R$ 800 mil; "A Bela e a
Fera" custou R$ 8 milhões.
TALHERES
O boom de peças agita também o circuito gastronômico da
cidade: Paulo Autran adora o
Parigi; Tony Ramos vai ao Massimo, ao Gero e ao La Casserole;
Mariana Lima ("A Paixão segundo G.H."), ao Nagayama;
Gabriela Duarte ("Pedro e Vanda"), ao Carlota; Ailton Graça
("Otelo"), ao Família Mancini.
MAGRO
Juca, que frequenta, entre outros, o Galeto's, está de regime:
ele emagreceu 13 kg para interpretar um senador corrupto e
metido a sexy nos palcos. Em
seu camarim não faltam frutas.
ÁGUA
No camarim de Gabriela
Duarte, 29, não faltam cremes.
"Gosto de me perfumar e de
passar hidratante antes de entrar em cena", diz ela. Camila
Pitanga, 26, precisa de uma hora
de concentração. E Paulo Autran, 81, de que precisa?
De um simples copo d'água.
MUSICAL
Aquarela de Marília
Em cartaz desde sexta com
"Marília Pêra Canta Ary Barroso", no Cultura Artística, a atriz
recebeu a coluna para um bate-papo. Marília, que tem casa na
Lagoa, no Rio, e em Higienópolis, em São Paulo, só torce o nariz quando o assunto é política
("definitivamente, não é o meu
forte"). E até para falar da idade
tem tiradas de ótimo humor.
Folha - Como você se cuida dias
antes de um musical?
Marília - Não posso ficar falando
muito. E sou alérgica. No primeiro dia em que entrei no teatro fiquei sem voz por causa do frio, da
poeira, do mofo, do ácaro. Não
saio à noite porque a cidade tem
fumaça. Tento me alimentar bem,
com legumes, frutas, vegetais.
Folha - Qual é a sua idade?
Marília - Não! Isso não se pergunta a uma senhora.
Folha - É que encontrei duas idades nos arquivos do jornal.
Marília - Jura? (risos) Quais?
Folha - 52 e 60.
Marília - Eu prefiro 52 (risos).
Folha - Há uma geração entrando
nos 60: Caetano, Gil, Chico...
Marília - Milton Nascimento...Mick Jagger...Ney Matogrosso... essa turma. Mas eu tenho 52!
Folha - Qual é a diferença entre os
públicos de São Paulo e do Rio?
Marília - O Rio, por causa da beleza, do mar, dispersa as amizades. E o público também, que só
vai ao teatro se a história interessa
muito, ou quando os preços são
baratos, R$ 15 no máximo. Talvez
em SP haja maior dedicação, um
público mais amoroso.
Folha - O que você acha das leis
de incentivo cultural?
Marília- Essa coisa fica sempre
um pouco na base da amizade: se
você conhece uma pessoa, é amiga, tem maior facilidade. Nunca
tive um grande patrocínio. Não
tenho vocação para ser patroa, arranjar dinheiro. Não sou esse tipo
de mulher. Infelizmente.
Folha - Ainda sente medo do fracasso?
Marília - Nesse espetáculo, há
melodias lindas, a roupa é alegre,
tudo é feito com o maior amor.
Mas não dá para prever. Todos os
atores que, como eu, têm 52 anos
(risos) já tiveram fracassos.
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