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Crítica/ "Capote" e "A Sangue Frio"
Filmes usam escritor como matéria-prima
SYLVIA COLOMBO
DA REPORTAGEM LOCAL
Há um momento em
"Capote" em que um
policial pergunta ao
escritor norte-americano se o
título do livro que está escrevendo sobre o assassinato de
uma família do Kansas ("A Sangue Frio") se refere ao crime
propriamente dito ou ao fato de
ele ter ficado amigo dos assassinos por interesse. Ou seja, para
que estes lhe contassem uma
história que, transposta para o
papel, o celebrizaria.
O filme de Benett Miller, que
chega agora ao DVD, é uma tentativa de investigar Truman
Capote (1924-1984) a partir
desse dilema ético. Desde o momento em que o autor leu, no
"New York Times", a notícia da
misteriosa e sangrenta morte
dos Clutter até a execução dos
criminosos, sua mente havia sido tomada por uma vertiginosa
inspiração, que o levara a escrever um clássico do chamado
"new journalism", "A Sangue
Frio" (1966).
Só que o preço a pagar por esse romance revolucionário,
uma espécie de "thriller informativo", foi alto desde o princípio. Ao mesmo tempo em que
sabia estar diante do momento
mais brilhante de sua obra, esta
se via comprometida porque
ele havia se aproximado demais
dos assassinos.
Apoiado pela atuação vencedora do Oscar de Philip Seymour Hoffman, o filme acaba
"inocentando" Capote, por
meio de uma leitura demasiado
emocional de suas decisões. Essa opção sentimentalóide compromete a produção, que, ainda
assim, ilustra bem o ambiente
jornalístico-literário de Nova
York nos anos 50/60.
O DVD traz um interessante,
ainda que por demais laudatório, documentário sobre o autor de "Bonequinha de Luxo" e
"Música para Camaleões". E,
para quem acha que a interpretação de Hoffman forçou demais os modos afetados de Capote, imagens do mesmo durante entrevistas mostram que
não houve exagero e só reforçam o mérito do ator.
Também disponível em DVD
(sem extras), "A Sangue Frio",
adaptação do livro para as telas
por Richard Brooks, de 1967.
Aqui, Capote e seus dramas
pouco importam. O filme é uma
tentativa de transpor, da maneira mais literal possível, os
fatos relacionados ao crime,
apoiando-se no conteúdo do
romance.
Na medida do possível, a produção consegue manter o suspense do texto, assim como reforça habilmente os aspectos
sombrios das trajetórias de cada assassino. Mas a tentativa de
ser fiel demais à história é, também, seu maior pecado. "A Sangue Frio", o livro, é uma obra
única e qualquer tentativa de
tirá-la de seu formato original
parece fadada a gerar um produto imperfeito.
CAPOTE
Direção: Bennett Miller
Distribuidora: Sony
A SANGUE FRIO
Direção: Richard Brooks
Distribuidora: Sony
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