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FASHION
Em seus desfiles, Milão celebra feminilidade, anos 70 e a moda natural
Mistura de cores aponta para busca de individualidade
DA ENVIADA A MILÃO
De Anna Wintour, da "Vogue"
América (que ficou famosa por jamais usar preto), a Franca Sozzani, da "Vogue" Itália, passando
por Suzy Menkes (do jornal norte-americano "International Herald Tribune") e chegando a nomes do segundo escalão, mas não
por isso menos importantes para
a moda, as escolhas de cores agora
incluem coral e turquesa, branco
e bege. Preto? Nunca. Mesmo no
desfile da Gucci, na tarde de quinta-feira no hotel Diana, o chique
mesmo eram o bege, o estampado, o brilho.
Os fashionistas vêm refletindo o
que se vê nas passarelas, principalmente depois do verão 2004,
quando os estilistas passaram a
celebrar cores otimistas, em tons
lavados e suaves, ou esfuziantes e
fortes. De Missoni a Prada, passando, naturalmente, por Marni e
Pucci, as cores são o último grito
da moda.
"O preto era forte no passado
devido à influência do design modernista", diz Joan Kaner, da Neiman Marcus, num material de
apoio às cores da empresa Pantone. "As pessoas já têm quase tudo
de preto de que elas precisam em
seus armários. Além do mais, vivemos um momento difícil. Roupas coloridas fazem as pessoas se
sentirem bem e esquecerem seus
problemas, mesmo que apenas
por um momento", declara Cindy
Weber-Cleary, diretora de moda
da revista "InStyle". É, de fato, a
era do escapismo,
Para muitos, a atual paixão pelas cores remete a um desejo de
expressar, cada vez mais, um estilo pessoal. "Quando todos se vestem de maneira monocromática,
seja preto, branco ou cinza, é muito mais difícil mostrar individualidade", aponta o diretor da sofisticada loja de departamentos norte-americana Bergdorf Goodman, Robert Burke. Mais do que
isso, querer uma roupa colorida
significa comprar roupa nova. E é
disso o que o mercado precisa.
Os desfiles de Milão
A temporada internacional de
lançamentos de primavera-verão
2005 de Milão termina oficialmente hoje.
A estação começou no início de
setembro em Nova York e passou
sem maiores brilhos por Londres.
De amanhã até o dia 12, os fashionistas se reúnem em Paris para esperar, mais uma vez, pelo novo.
Mas nem sempre ele vem. Os
tempos estão bicudos, e apesar da
recuperação do mercado de luxo
italiano neste ano, pouca gente
quer correr riscos. Com exceção
da Prada, que mais uma vez deu a
cara para bater, em momentos de
extrema ousadia, o que se viu foram mais evoluções do que revoluções, em termos de silhuetas,
proporções e temas.
Por exemplo, manteve-se a valorização da feminilidade, com
babados, fendas e materiais esvoaçantes como o musseline ou o
cetim junto ao corpo. Em time
que está ganhando não se mexe, e
assim prosseguiram tanto a Marni quanto a Pucci. Na primeira,
por exemplo, Consuelo Castiglioni celebrou estruturas mais soltas,
mais relaxadas, ainda evocando o
espírito boêmio, com ênfase na
manufatura (o chamado boho-chic foi também a tônica do desfile da Blumarine de Anna Molinari, um dos pilares da temporada
milanesa).
O destaque da Marni foi a valorização do natural, do rústico, no
styling e em materiais como o algodão e a juta (em lindas saias balonês). O hype da natureza veio
também na Prada, inspirada também pelo mundo dos pássaros,
em padrões de penas e até em
aplicações de cisnes e araras.
Achou meio absurdo? Pois é essa busca pelo único a mesma história que fez muitas grifes procurarem em terras distantes referências para suas coleções. A Prada
(impossível não citar mil vezes a
mais influente linha da cidade)
olhou para a Jamaica, enquanto
China, Índia e Marrocos foram citados aqui e ali nas passarelas.
O Havaí de Elvis Presley, por
sua vez, virou mote para a D&G,
numa simpática e jovial coleção
que deverá aportar por aqui, não
apenas nas prateleiras da Daslu,
mas no novo endereço da dupla
Domenico Dolce e Stefano Gabbana, na nova ala do shopping
Iguatemi. As mais fofas: microssaias de hula, com ráfia de palha.
Além do étnico, onde mais uma
vez Giorgio Armani se esbaldou,
os anos 70 continuam em evidência, no espírito de batas e atitudes.
Eles aparecem num certo hippismo, na falta de compromisso e
approach relaxado de batas e túnicas, e também com força na forma do longo. Esvoaçante quando
paz e amor, sofisticado quando
focado nas cerimônias de Oscar e
Grammy da vida.
O longo é uma das tendências
confirmadas pela estação milanesa, adotado pela multicolorida
Missoni e também pelo estilista
brasileiro Icarius de Menezes, que
vem chamando a atenção com
seu trabalho de reconstrução à
frente da tradicional casa Lancetti
e que também acreditou no étnico
para esta temporada.
De construção -e de continuidade- é a tarefa do grupo Gucci,
após a saída de Tom Ford da companhia, em março último. Pois
em seu primeiro desfile à frente
do feminino, a estilista Alessandra Fachinetti deixou bem a desejar. Partiu da silhueta sensual e
envolvente dos vestidos de cetim
de Ford. Mas não inovou, perdendo o foco numa coleção com poucas idéias, em ingratos tons de
marrom e gigantescas bolsas de
linguagem western.
Ford, ao menos, fazia tudo isso
com propriedade. Sua sucessora,
aparentemente com receio de ousar, quis dançar na mesma musica, mas flopou. Edição repetitiva e
um certo ar de déjà vu frustraram
os fashionistas.
Uma constrangedora chuva de
purpurina na passarela encerrou
a apresentação, com a brasileira
Isabeli Fontana desfilando um
vestido preto assimétrico, curto
na frente, cauda atrás, estrutura
de corselet. Belo, mas estranhamente vazio em conteúdo fashion. Desta vez, o povo da moda
não tinha exatamente o que comemorar.
(ERIKA PALOMINO)
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