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LIVRO FASHION
Brasileiros comentam "O Diabo Veste Prada", que narra a difícil vida da assistente de uma poderosa editora
Best-seller põe tiranos da moda na frente do espelho
ALVARO LEME
DA REPORTAGEM LOCAL
Um milhão de pessoas daria a
vida para escrever este texto.
É um argumento parecido -o
de que todo mundo adoraria trabalhar para a diretora da maior
revista americana de moda- que
convence a jovem jornalista Andrea Sachs a aceitar ser assistente
de Miranda Priestly, manda-chuva da "Runway Magazine".
Andrea e a revista existem somente nas páginas de "O Diabo
Veste Prada", de Lauren Weisberger, que figura entre os mais vendidos dos Estados Unidos e acaba
de chegar às livrarias brasileiras.
As semelhanças com a vida real
explicam o sucesso: o primeiro
emprego da autora foi como assistente de uma das mulheres
mais poderosas do mundo da
moda: Anna Wintour, diretora da
"Vogue" americana.
Anna é personagem de histórias
contadas nas rodinhas fashion de
Nova York em tom de lenda urbana. Uma delas dá conta de que,
quando ela entra no elevador da
revista, os outros saem para não
incomodar. Outra: uma funcionária da "Vogue", ao testemunhar um tombo da diretora, ficou
em dúvida se devia ajudá-la. Não
ajudou e, soube depois, fez o certo: estender a mão seria evidenciar um momento de fraqueza.
Miranda, a capeta elegante do
título, submete seus funcionários
a tarefas duras 24 horas por dia:
comprar absorventes íntimos e
enviar livros de Harry Potter para
suas filhas na Europa via jatinho,
por exemplo. É descrita como alguém que pode erguer ou derrubar uma carreira. "O que a Anna
Wintour seleciona implica grandes compras e vendas toda estação", compara a editora de moda
Gloria Kalil.
"Muita gente vem me dizer que
faria de tudo para trabalhar com a
Gloria Kalil", conta a jornalista
Alexandra Farah que trabalha há
quatro anos com a editora no site
Chic. Alexandra devorou o livro
assim que saiu nos Estados Unidos e conta que a relação com
Gloria não lembra em nada a de
Andrea e Miranda. Na história, a
sofrida assistente tem de encomendar cada refeição da chefe.
"Já a Glória é quem traz o próprio
almoço", entrega.
O consultor Carlos Ferreirinha
leu em 2003 e explica que gostou
porque mostra "como o mundo
da moda é feroz por trás das cortinas". Ele traça um paralelo entre o
mercado brasileiro e o americano:
lá é comum ser assistente por
mais tempo. "Aqui há estilistas
que se formam e já querem ir para
a SP Fashion Week", diz.
Não é o caso, por exemplo, de
Marcelo Sommer. Hoje estrela do
primeiro time de estilistas brasileiros, seu primeiro emprego em
moda foi como assistente de estilo
numa camisaria. Sem nunca ter
comido o pão que o diabo (vestido de Prada ou não) amassou.
"Tinha que, no máximo, fazer
umas pesquisas na [rua] 25 de
Março, coisa que eu adorava",
lembra. Sommer tem somente
uma assistente, mas poderia ter
muitos mais. A oferta de profissionais é enorme. "Ninguém nunca trabalhou de graça para mim,
mas se eu quisesse acharia sem dificuldade", diz ele, que recebe até
40 currículos por mês.
Organizadora do Fashion Rio,
semana de moda carioca, a jornalista Eloysa Simão passou os últimos 16 anos no mundo fashion e
conta que neste período já viu,
sim, assistentes como a do livro.
"Conheci gente que arrumava o
guarda-roupa e pagava contas
pessoais do patrão. E até ia à casa
dele no meio da madrugada para
ouvir desabafos sentimentais",
diz ela. Mas faz uma ressalva:
"Não é só no mundo da moda que
há quem se sujeite a qualquer coisa para ser bem-sucedido."
O DIABO VESTE PRADA. Autora: Lauren
Weisberger. Editora: Record. Quanto: R$
45 (400 págs.)
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