|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
JAZZ
Quatro dos maiores nomes do gênero têm CDs fundamentais lançados pela primeira vez, em série que chega a 75 títulos
Miles + Coltrane + Monk + Evans, sem legendas
Folha Imagem
|
O pianista Bill Evans, que tem dois CDs lançados no Brasil, incluindo o clássico "Walts for Debby" |
CASSIANO ELEK MACHADO
DA REPORTAGEM LOCAL
Não é qualquer dia, e talvez
seja este o primeiro, que
uma coleção de CDs de jazz no
Brasil chega a 75 títulos. A façanha é da série Fantasy Jazz, que a
BMG vem lançando desde o Natal
de 2002. A quarta fornada de discos, que chegou há pouco nas prateleiras, apresenta ao formato CD
pela primeira vez no país pelo menos três dessas obras que se poderia enfiar numa cápsula do tempo
como exemplos do que foi o jazz.
Entre eles está um dos trabalhos
mais bonitos da história do gênero, o clássico "Waltz for Debby",
que Bill Evans gravou em 1961.
Última gravação do trio mais
importante do pianista, e um dos
triângulos mais bem desenhados
que o jazz já viu, o disco foi o canto de cisne do baixista Scott LaFaro. Menos de 15 dias depois dessa
sessão, no clube nova-iorquino
Village Vanguard, o músico sofreu um acidente de carro e morreu. Tinha 25 anos e era a grande
esperança do contrabaixo.
"Waltz for Debby" não é um
disco de esperança. O trabalho,
que saiu do mesmo concerto gravado no excelente "Sunday at the
Village Vanguard" (que a BMG já
lançou aqui), é mais bem um expoente de romantismo -um romântico que não tem nenhum gene de "robertocarlismos".
Lição de razão e sensibilidade,
muito mais de sensibilidade do
que de razão, "Waltz" é o disco
que deu a Bill Evans (1929-1980) a
reputação de um pianista "impressionista". A mesma delicadeza que o pintor francês Claude
Monet mostrara na percepção das
sutilezas da luz ele parece ter dos
chiaroscuros do piano.
Se no pacote de CDs da Fantasy
(maior conglomerado jazzístico
do mundo) está essa última sessão de um dos grandes trios do
gênero, ele apresenta também a
primeira gravação de um dos
quintetos mais redondos do jazz.
"Cookin'" é o marco zero da
parceria do "Picasso" Miles Davis
com o sax tenor sem igual de John
Coltrane e uma cozinha com Red
Garland (piano), Paul Chambers
(baixo), Philly Joe Jones (bateria).
Juntos, eles gravaram ainda as
obras-primas do jazz moderno
"Relaxin'", "Steamin'" e "Workin'" (os dois primeiros já saíram
aqui em pacotes anteriores desta
coleção). Em 1957, depois de dois
anos de história, se separaram.
"Cookin'" tem a mesma receita
dos demais títulos. Dentro da árvore genealógica, o quarteto de
discos fica no galho do hard bop,
gênero que fundiu três das melhores coisas da história jazzística
(o apreço pelo improviso, que vinha do bebop, a contenção elegante do cool e o suingue, que
sempre tivera importância no
jazz, até ser posto em segundo
plano justo no bebop e no cool).
O álbum, que tem como um dos
pontos altos o "hino" hard bop
"Airegin", de Sonny Rollins, evidencia Miles e Coltrane em alguns
dos momentos mais musculosos
de suas trajetórias.
Algo diferente acontece no terceiro grande destaque do pacote,
em que Coltrane encontra o pianista mais original do jazz.
Gravado um ano depois do que
"Cookin'", "Thelonious Monk
with John Coltrane" fala com inteligência sobre lirismo. Feito só
de pedras angulares de Monk, temas como "Ruby, My Dear",
"Trinkle, Tinkle" e "Epistrophy",
o CD mostra a dupla de gigantes
fazendo jazz em feitio de oração.
Monk está mais "meditativo",
mais contido do que o seu normal. Coltrane, mesmo trabalhando com um fraseado repleto de
notas, segue no mesmo diapasão.
Bill Evans, Miles Davis, Thelonious Monk e John Coltrane, quatro pilares da sabedoria do jazz
moderno, já tinham algo lançado
no Brasil, mas uma das maiores
contribuições da série da BMG/
Fantasy é o lançamento de trabalhos de nomes inéditos (ou semi)
nos CDs brasileiros.
Entre os 15 lançamentos de agora, este é o caso de Bobby Timmons (excelente pianista de soul
jazz que chega com um quase ótimo disco), Red Garland (de quem
sai agora o primeiro, e excelente,
disco como líder) ou o saxofonista Art Pepper, que já desembarcara em fornadas anteriores da
BMG e agora volta com o louvável
"Meets the Rhythm Section".
Em meio a tantos altos, entre
outros sobre os quais aqui não se
falou, a coleção jazzística esbarra
em um detalhe. Ainda que os discos sejam anunciados como "remasterizados em 20 BIT", o que
garantiria qualidade superior de
som, os CDs ainda apresentam
aqui e acolá problemas na equalização. É só ajuste fino.
Texto Anterior: Música - "The Diary of Alicia Keys": Alicia Keys descobre o balanço dos 70 Próximo Texto: Crítica - Bia Abramo: Duas ou três coisas para esperar em 2004 Índice
|