|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CRÍTICA
Duas ou três coisas para esperar em 2004
BIA ABRAMO
COLUNISTA DA FOLHA
O ano vai tão fresco e novo
que ainda se pode ter algum
tipo de expectativa em relação ao
que vamos ver na TV.
Nada muito complexo: é inútil
esperar que sejam eliminados os
golpes baixos, os lances de mau
gosto, os festivais de cretinice
que assolam 90% da programação. A guerra por audiência deve
prosseguir acirrada e, portanto, a
probabilidade de que as coisas
permaneçam mais ou menos nos
mesmos patamares de idiotia e
sensacionalismo é grande.
O que dá para desejar para o
ano são duas ou três coisas modestas, mas que podem começar
a mudar o panorama.
A primeira, e talvez a mais importante, é que a sociedade continue a vigiar e punir os excessos
e abusos daquilo que se fala e faz
na TV. Nunca é demais lembrar
que os canais de TV são concessões públicas e que, portanto, deve prevalecer o interesse público.
Foi em nome do interesse público que a sociedade reagiu aos
episódios da entrevista forjada
com um membro do PCC no
"Domingo Legal" de Gugu Liberato e do destempero verbal de
Hebe Camargo sobre o acusado
de assassinar o casal Liana Friedenbach e Felipe Caffé.
Ambos apresentadores famosos que gozam de altos índices de
audiência, Gugu e Hebe abusaram de seu poder de fazer e falar
bobagem diante das câmeras e se
deram mal.
A segunda é que prossiga a
procura por novos formatos de
dramaturgia. A telenovela vai
bem, obrigado, apesar do sucesso incontestável dos "reality
shows". A Globo confirmou com
os recordes de audiência de "Mulheres Apaixonadas" e apostou
alto na novela de autor "Celebridade". O SBT investiu na mexicana nacionalizada "Canavial de
Paixões". A Rede TV! teve seus
momentos com "Betty, a Feia" e
"Pedro, o Escamoso".
Outras demandas
Mas o que os programas bem-sucedidos de público e prestígio
parecem sinalizar é que há muitas outras demandas de ficção na
TV, para além da telenovela, e algumas experiências deveriam ter
continuidade. Tentativas de inovar nos formatos mais tradicionais, como "A Turma do Gueto",
"Cidade dos Homens", "Cena
Aberta" e "Sexo Frágil", serão
bem-vindas. É preciso, mais do
que encontrar "a fórmula", diversificar as maneiras de fazer
ficção na TV.
Talvez a terceira seja que se ouça de forma mais criativa aquilo
que os números de audiência
vêm dizendo. Os baixos índices
dos programas da Xuxa e da Eliana, por exemplo, talvez queiram
dizer que a fórmula dos infantis
tenha que mudar; por outro lado,
uma produção ambiciosa e bem
cuidada como "A Casa das Sete
Mulheres" ter uma audiência
melhor do que o horário faria
prever pode significar que o público sabe distinguir boas produções de lixo.
Não é muito, mas se em 2004
isso acontecer, pode ser que a TV
comece a mudar. Para melhor.
E-mail: biabramo.tv@uol.com.br
Texto Anterior: Jazz: Miles + Coltrane + Monk + Evans, sem legendas Próximo Texto: Novelas da semana Índice
|