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Telespectador vira mina de ouro ao pagar para participar de programas e entrar em chats; Band e SBT lançam "portal de voz" e empresa britânica banca o interativo "Swing com Syang", exibido na Gazeta
TVs brasileiras se abrem à interatividade caça-níquel
LAURA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Quem costuma passear por todos os canais da TV na madrugada provavelmente já se deparou
com Syang, aquela loira tatuada
que protagonizou barracos na
"Casa dos Artistas 2", do SBT.
Parece mentira, mas o programa de cenário trash comandado
por ela em plena madrugada da
TV Gazeta é o primeiro fruto de
um investimento milionário que
tem o ambicioso objetivo de revolucionar a televisão brasileira.
"Swing com Syang" apresenta
bandas alternativas e convidados
praticamente desconhecidos, mas
seu segredo está no chamado chat
telefônico. Ao ligar para um número de celular exibido na tela
-e pagar por isso-, o telespectador pode gravar recado para a
apresentadora, ser escolhido para
conversar com ela ao vivo ou entrar em salas de bate-papo.
O sistema, adotado também por
SBT e Band na semana passada,
parece ser um negócio de ouro
para TVs, que têm a possibilidade
de fazer pesquisas com a audiência, agregar conteúdo a seus programas e ainda pôr tudo na conta
(telefônica) do telespectador.
As empresas donas da tecnologia do chat têm contrato com as
operadoras de telefonia e ficam
com uma porcentagem do valor
da ligação. A emissora, dependendo do acordo, recebe parte
desse lucro ou simplesmente não
paga pelo novo -e útil- serviço.
No "Swing com Syang", um público formado principalmente
por jovens das classes B e C torra
salários e mesadas atrás de namoro ou amizade. O programa é exibido diariamente da 0h às 2h, e o
chat fica no ar 24 horas. E há telespectador que passa até quatro horas jogando conversa fora com
desconhecidos.
A tecnologia do chat e a produção do "Swing" são da britânica
One World Interactive, uma das
maiores distribuidoras de conteúdo digital do mundo. A empresa
está presente em mais de 70 países
e é responsável, por exemplo, pelo
sistema de votação telefônica do
"reality show" "Who Wants to Be
a Millionaire", da rede inglesa
BBC (algo como a eliminação do
"Big Brother"). No Brasil há pouco mais de seis meses, a companhia divulga que investirá R$ 65
milhões no país ao longo de 2004.
A One World produz ainda o
programa "Happy Lyne" (no ar
após o "Swing"), com meninas de
pouca roupa conversando com
telespectadores e comandando
jogos de perguntas e respostas.
Fora isso, arrenda horários em vários canais para exibir seguidos
comerciais de chats. Também elaborou técnica de participação de
ouvintes para as FMs Energia 97
(97,7 MHz) e Mix (106,3 MHz).
Estreou, em parceria com a
Bandeirantes, o "Alô Band", primeiro canal de interatividade voltado à programação completa de
uma rede brasileira. Ao discar o
número -também de celular-,
o espectador pode opinar sobre
os programas, concorrer a prêmios, conversar ao vivo com
apresentadores e participar de
chats com entrevistados.
Exemplo: um ginecologista participa do "Melhor da Tarde" e,
após o programa, entra no chat
telefônico para tirar dúvidas de
telespectadores. "Nosso objetivo
com o "Alô Band" é traçar um perfil de nossa audiência e definir o
conteúdo da programação de
acordo com a votação telefônica",
diz Milton Turolla, diretor de novos negócios da Bandeirantes.
Só no primeiro dia, o "Alô
Band" recebeu mais de 30 mil ligações, cujo custo, assim como no
"Swing com Syang", é o de uma
chamada normal de celular.
O "Portal de Voz do SBT" (preço de ligação de longa distância
para celular mais impostos) estreou no "Programa do Ratinho",
com 40 mil chamadas. Em breve,
deve ir ao ar em todos os programas da casa. Dentre as opções,
pode-se participar de promoções,
bate-papo com telespectadores e
gravar recados para artistas ("meta a boca no trombone para o Ratinho, deixe uma mensagem legal
para o Gugu, uma gracinha para a
Hebe ou fale francamente com a
Sônia Abrão"). Há um jogo no
qual o vencedor da semana recebe
o seguinte "prêmio": conhecer o
SBT e "fazer parte da platéia de
seu programa favorito".
A tecnologia é concorrente da
One World e foi elaborada pelo
SBT, em parceria com a Vivo,
Brasil Telecom e Suportecom, segundo a assessoria da emissora.
Por enquanto, não está nos planos da Band e do SBT mudar
completamente o formato de sua
programação, a fim de colocar a
interatividade em primeiro plano.
A participação do público ao vivo
e os chats serão, no início, complementares ao conteúdo tradicional dos programas. Poderão
ganhar mais espaço se houver resposta positiva da audiência.
Já o "Swing com Syang" foi justamente criado para veicular o
chat e é totalmente bancado por
ele (nem tem intervalo comercial,
já que o horário é arrendado pela
One World). Gira em torno da
participação dos telespectadores
ao vivo (que conversam com
Syang e convidados) e da entrada
da apresentadora nas salas de bate-papo -o que, de certa forma,
inaugura um formato televisivo.
No ar desde maio, movimenta a
estagnada programação da TV
Gazeta e subiu consideravelmente
sua audiência nas madrugadas.
Quando estreou, registrava 0,2
ponto no Ibope (menos de dez
mil domicílios na Grande São
Paulo) -resultado chamado de
"traço". Atualmente, a média está
em 1,8 e o pico chega a 3,5 pontos
(171,5 mil lares na Grande SP).
"No começo, a gente tinha até
dificuldade para conseguir os
convidados. Agora, as pessoas me
ligam pedindo para participar do
programa", afirma Syang.
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