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TELEVISÃO
Minissérie premiada em Cannes investiga o período de 1966 a 2003 e tem exibição em duas partes no Cinemax
Giordana filma crítica à juventude dos anos 60
PEDRO BUTCHER
CRÍTICO DA FOLHA
São muitos os motivos para
desconfiar de "O Melhor da
Juventude": sinopse que descreve
uma saga familiar, seis horas de
duração... Fortes sinais de um
academicismo sonolento. Mas
deixe de lado preconceitos. Vê-lo
é uma experiência comparável a
outros grandes filmes que foram
concebidos para TV e acabaram
no cinema (como "Fanny & Alexander", de Bergman, ou "Berlin
Alexanderplatz", de Fassbinder).
"O Melhor da Juventude", de
Marco Tullio Giordana, foi produzido pela RAI -outro motivo
de desconfiança na Itália de Berlusconi- e deveria ter sido exibido só na TV. Mas os produtores
ficaram tão entusiasmados que
resolveram lançá-lo em cinema.
Selecionado para Cannes, levou
o único prêmio da mostra Un
Certain Regard. No Brasil, tem
chance de ser visto no Cinemax.
Como "As Invasões Bárbaras",
de Denys Arcand, se propõe a fazer o balanço de uma geração
-que chegou à adolescência nos
turbulentos anos 60, foi às ruas e,
possivelmente, foi a última que viveu a política na carne. Mas tanto
os meios como os resultados dos
filmes são opostos. Ainda que carinhoso, o balanço de Arcand é cínico e pessimista. Giordana, ao
contrário, estende-se com objetividade, oferecendo um balanço
melancólico, porém otimista.
O espectador é convidado a
acompanhar a história da família
Carati a partir da trajetória de
seus dois filhos homens: Nicola
(Luigio Lo Cascio) e Matteo (Alessio Boni). A história tem início em
66, quando ambos são estudantes.
Um episódio será divisor de
águas na trajetória dos dois. Matteo, trabalhando como voluntário
em uma instituição psiquiátrica,
não se conforma com o tratamento de choque dado a uma jovem
paciente. Resolve "roubá-la" e,
com o irmão, tenta levá-la de volta
à família, sem sucesso. Ela termina presa, e eles a perdem de vista.
A partir daí, a vida dos irmãos
toma rumos opostos. Nicola tem
uma reação afirmativa: torna-se
psiquiatra e vai liderar a reforma
das instituições para doentes
mentais.
Matteo, por sua vez, tem uma
reação niilista: abandona os estudos, nega tudo o que aprendeu e
se alista no Exército. O caminho
deles se bifurca a ponto de raramente voltarem a se cruzar. Episódios da história italiana vão
pontuar o filme, ora aproximando os irmãos, ora afastando-os.
Giordana propõe uma visão crítica da juventude dos anos 1960,
lúcida em relação à opção pela
violência e com uma certa cegueira em relação a dogmatismos.
A riqueza dos personagens impede que o filme se torne maniqueísta, mesmo quando avança
no tempo (a ação termina em
2003). O tom é melancólico, as escolhas nem sempre se revelam
certas, as surpresas da vida às vezes não são agradáveis. Mas o sentimento final é um otimismo pé-no-chão -e emocionante.
O MELHOR DA JUVENTUDE. Quando:
amanhã e terça, às 20h15, no Cinemax.
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