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Crítica/"Hellboy 2"
Roteiro é pretexto para desfile de seres fantásticos
PEDRO BUTCHER
CRÍTICO DA FOLHA
O
mexicano Guillermo
del Toro trabalha pelos
meandros do cinema
de gênero imprimindo ao fantástico uma marca extremamente pessoal. Sua assinatura
se expressa sobretudo no desenho de personagens fabulares
que costumam brotar do fundo
da terra, combinando traços do
gótico e do barroco.
Até aí, nenhuma novidade:
Tim Burton, desde os anos 80,
faz algo bastante parecido. Talvez o toque mais pessoal de Del
Toro esteja na absorção de elementos do melodrama e na
presença ainda mais forte do
imaginário católico.
"Hellboy 2" retoma o personagem das HQs de Mike Mignola que Del Toro já havia
adaptado em 2004. Não por
acaso, esse personagem é um filho do inferno -mas também
uma criatura adorável, estranhamente carismática. Como
Burton, Del Toro suaviza o universo do horror sem necessariamente banalizá-lo.
Neste segundo "Hellboy", é
visível que o cineasta pôde trabalhar com mais liberdade do
que no primeiro filme, de carreira turbulenta. Apesar do pobre desempenho nos cinemas,
o primeiro, produzido pela
Sony, teve uma sobrevida surpreendente no DVD, o que estimulou a Universal a retomar o
personagem. O sucesso de "Labirinto do Fauno" (2006) certamente influenciou a decisão.
"Hellboy 2" confirma Del Toro como um criador de universos belíssimos, visualmente
complexos e ricos em detalhes.
O roteiro tem doses calculadas
de ação, humor e drama arranjados para distrair o espectador
entre uma e outra cena espetacular, quando as criaturas do cineasta de fato brilham.
Mas fica evidente, também,
certa inconsistência nesse universo -algo que o cinema de
Burton não tem. Em vários momentos, o visual de "Hellboy 2"
ganha ares próximos do kitsch.
O conflito dramático é demasiado pobre: Hellboy e seus
amigos vão lutar contra o líder
de um exército adormecido,
prestes a despertar. Tudo, enfim, parece mero pretexto para
o desfile das criaturas fantásticas, deixando a sensação de um
filme-purpurina: uma festa para os olhos que se desfaz no ar.
HELLBOY 2 - O EXÉRCITO
DOURADO
Produção: EUA/Alemanha, 2008
Direção: Guillermo del Toro
Com: Ron Perlman, Selma Blair
Onde: estréia amanhã nos cines
Bristol, Eldorado e circuito
Classificação indicativa: não recomendado para menores de 14 anos
Avaliação: bom
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