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Idosos garantem ingressos de filhos, netos e "família"
DA REPORTAGEM LOCAL
"Meus netos estavam me
enchendo o saco com isso!",
reclama Antônio Salerno,
após comprar três ingressos
no Credicard Hall. "Sou aposentado, mas ainda trabalho.
É o Brasil", afirma.
Aos 84 anos, com direito a
escapar da fila, Salerno calcula ter gasto "uma meia hora, entre estacionar o carro,
chegar à bilheteria e pagar".
Cícero Augusto de Oliveira, 66, aponta não a idade,
mas sim as pernas deficientes como a razão para o atendimento preferencial. Roupas simples, diz que é "vendedor" e que adquiriu seis
ingressos (a R$ 250 cada um)
para ele "e a família". A reportagem pede seu telefone,
para ouvi-lo depois do show,
e ele nega. "Está quebrado."
Os números dos filhos que
irão acompanhá-lo diz não
saber "nenhum, acredita?".
"Se não fossem os pais para ajudar os filhos...", disse o
advogado aposentado Emerson Vieira, 68, à filha Heloísa
Di Giorgi, 32, por quem ele
ficou cinco horas na fila.
Heloísa é publicitária e
tem "paixão por Madonna
desde pequena". À 0h de
quarta, conectou-se à internet. Sem conseguir realizar a
compra, decidiu ir pessoalmente ao Ibirapuera, à tarde.
Lá, havia dez guichês disponíveis e numerosa presença de idosos, que concentravam a maioria dos atendimentos. Compradores jovens que estavam havia horas na fila, sob o sol, passaram a gritar insultos aos idosos na bilheteria -"Vergonha!", "Inescrupuloso!"- e
às mulheres com crianças de
colo -"Vagabunda!".
Indiferente aos protestos,
Heloísa chamou seu pai para
a fila e permaneceu ao lado
dele. "Foi uma saga. Tô quebrada. Não almocei, não tomei café, nada. Mas tô muito
feliz", disse, ao voltar para
casa -com o pai e o ingresso.
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