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Crítica/"Versátil"
Em vez de agonizar, Nelson revitaliza obra em disco
LUIZ FERNANDO VIANNA
DA REPORTAGEM LOCAL
Como o xará Cavaquinho, Nelson Sargento
não prima por uma
grande voz, e sim pela maneira
única com que interpreta suas
canções, também marcadas por
um toque bem peculiar. "Versátil" é um belo retrato disso.
Nelson sai do ramerrame de
"Agoniza Mas Não Morre" -se
depender dos taxidermistas
travestidos de samaritanos, os
sambistas passam a vida cantando as mesmas coisas- e
mostra várias boas novidades.
As mais notórias são as variações de gênero. A valsa instrumental "Rosa Maria, Flor Mulher", parceria com Wagner Tiso e interpretada pelo pianista,
é muito bonita. O sutil bolero
"Bálsamo" canta o amor realizado ("Eu me encontrei quando encontrei você"). E o fox
"Primeiro de Abril" -com guitarra, sax e outros rigores do gênero- brinca com o amor realizado apenas em sonho, mentira
apropriada à data-título.
Mas a melhor das variações é
a marcha-rancho "Amar Sem
Ser Amado", uma das quatro
parcerias com Agenor de Oliveira presentes no CD e ótimo
exemplar desse estilo em que a
tristeza não balança, mas arrasta o pé. "É preferível dar ponto
final a este amor imortal", diz a
letra, num oximoro inspirado.
Mostrando que já está acima
de certas pequenezas, Nelson
rompe o pacto (a imposição, na
verdade) que há nas escolas de
samba de não se gravar composições que foram derrotadas
em quadra e apresenta o belo
"Século do Samba", que a Mangueira desprezou para o Carnaval de 1999. E apresenta num
andamento à antiga, não no desenfreado dos tempos atuais.
O resto é samba mesmo, ainda que possa ser samba-choro
("Acabou Meu Sossego") ou
samba-canção ("Ídolos e Astros"). E aí predominam a temática do amor e um olhar desencantado e/ou moralista, como reza a tradição.
São, por exemplo, as "ilusões
perdidas" de "Nas Asas da Canção" (parceria com Dona Ivone
Lara que ganha o famoso contracanto dela); a ingratidão
cantada com dor e humor ("Até
na falsidade é melhor ser verdadeiro") em "Parceiro da Ilusão"; a lembrança de que dinheiro não compra felicidade
em "Pobre Milionária"; as juras
sucedidas de abandono na já
conhecida "Só Eu Sei"; e o lamento pela velhice na idem
"Pranto Ardente".
O mais conhecido dos sambas é o sarcástico "Falso Amor
Sincero". E Zeca Pagodinho faz
ótima participação em "Ciúme
Doentio", de Nelson e seu mestre Cartola. O CD mostra que
Nelson está longe de agonizar.
VERSÁTIL
Artista: Nelson Sargento
Gravadora: Olho do Tempo
Quanto: R$ 25, em média
Avaliação: bom
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