São Paulo, domingo, 05 de setembro de 2004 |
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
MÔNICA BERGAMO
Muito além da moldura O orçamento da Pinacoteca é de cerca de R$ 4 milhões anuais. Aráujo calcula que precisaria de pelo menos 25% a mais para começar a pensar em ter obras de artistas como Ismael Nery, cujo preço de mercado é dos mais altos. Em leilões, chegam a ter lance mínimo de até R$ 800 mil. O museu completa cem anos em 2005. Na quinta, porém, o aniversário era de sua funcionária mais antiga, a recepcionista Therezinha Paschoal, que trabalha lá desde 1956. A idade ela não conta. Antes da Pinacoteca, Therezinha foi modelo e manequim. Desfilou para confecções da hoje popular rua José Paulino e foi eleita a Mais Bela Esportista do São Paulo Futebol Clube, em 1952. No museu, perdeu a conta do número de vezes em que, durante o regime militar, saiu correndo do museu ao ser alertada de supostas bombas na Escola de Belas Artes, que funcionava no prédio. Marcante para a veterana Therezinha, a quinta-feira também vai ficar na memória dos gêmeos Rafael e Régis Brasílio, 18. Foi seu primeiro dia em seu primeiro emprego, no mesmo cargo ocupado por ela. Moradores do Itaim Paulista, na zona leste da capital, nunca tinham ido à Pinacoteca antes das entrevistas de trabalho. Por isso não quiseram arriscar nenhum palpite sobre as obras de arte que viram. "Vamos aprender agora", diz Rafael. Cerca de 1.200 obras do acervo do museu ficam expostas, um índice de 20%. Outros museus paulistanos, como o MAC-USP, têm somente 3% de suas obras em exposição. Nesse campo a vantagem da Pinacoteca é a área total, que cresceu de 12 mil m2 para 20 mil m2 com a inauguração da Estação Pinacoteca, espaço anexo, em janeiro deste ano. Quanto maior a área, mais trabalho para o encarregado de conservação das obras Claudio José dos Santos, 37, que há sete anos circula pelas salas do museu munido de espanador, água e flanelas. Sua missão: limpar uma média de 40 obras todo santo dia. Claudio começou na Pinacoteca fazendo um trabalho temporário. Esforçado, foi ficando, ficando, até ficar de vez. "Sonhava estar perto dos quadros porque na minha cidade não existiam museus", diz ele, natural de São Bento do Una, (PE). O trabalho de conservação está para as obras de arte assim como as vacinas para as doenças. "A gente se esforça para não ter de chegar à restauração, que é um processo muito invasivo", conta Valéria de Mendonça, responsável por uma verdadeira UTI de quadros e esculturas, no subsolo do museu O trabalho deve aumentar ainda mais em abril, quando começam as comemorações do centenário. Estão nos planos uma megaexposição do escultor britânico Henry Moore (1898-1986) e uma retrospectiva de Almeida Junior, aquele mesmo de quem a bibliotecária Lucila falou. A Pinacoteca tem o maior acervo de obras do artista, que retratou cenas do interior paulista no século 19. Quem ainda não sabe se estará nas comemorações dos cem anos é Therezinha, a recepcionista. "Eu ia sair neste ano", diz ela. "Vivi mais com a Pinacoteca do que com minha própria família." Texto Anterior: Previsão de público é de 2,7 mi Próximo Texto: Televisão: Redes se unem contra agência do cinema Índice |
|