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MÚSICA
Projeto Pixinguinha, Rumos Itaú Cultural e Trama Universitário voltam ao mote de levar arte "aonde o povo está"
Caravanas reeditam cultura itinerante
PEDRO ALEXANDRE SANCHES
DA REPORTAGEM LOCAL
É tempo de caravana outra vez.
A máxima surrada dos anos 80, de
que "todo artista tem de ir aonde
o povo está", volta à voga e recoloca no roteiro musical nacional
cantos mais afastados do país.
Na ponta de partida da grande
esteira está o Projeto Pixinguinha,
que reestreou na semana passada
(em Belo Horizonte) após sete
anos de interrupção e chega a São
Paulo na próxima quinta-feira
com show coletivo de Jards Macalé, Ná Ozzetti, Nó em Pingo d'Água e Selma do Coco.
Na ponta de chegada se encontra outro projeto, o Rumos Itaú
Cultural (leia à direita), que acaba
de percorrer o país inteiro num
giro de palestras e pesquisa sobre
as produções musicais locais "do
Oiapoque ao Chuí", para citar outro jargão de integração nacional.
Em comum, os dois projetos
guardam o dado de visitarem as
27 capitais do país, uma por uma.
São opostos num critério central:
o Rumos é fruto da iniciativa privada, o Pixinguinha é investimento direto do governo federal, via
Funarte (do Ministério da Cultura) e tem patrocínio da Petrobras.
O Itaú consumirá na primeira
fase do Rumos R$ 3 milhões, segundo o coordenador de música
da instituição, Edson Natale. É o
mesmo valor que o presidente da
Funarte, Antonio Grassi, diz que
o governo investiu na etapa 2004
do Pixinguinha, contando também com a parceria dos diferentes Estados e municípios.
"A volta do Pixinguinha traduz
uma linha de ação de democratizar o acesso à cultura, levar música de qualidade a preços acessíveis ao cidadão. Ele deve ser o alvo
das políticas públicas, e não os artistas e produtores culturais", afirma Grassi, tangenciando o bordão do artista nos braços do povo.
Música e universidade
Se discursa em prol de uma viagem que sai da "cultura de mercado" para a "ação pública", o governo federal não se encontra sozinho nesse tipo de iniciativa.
Num outro exemplo de ação
privada de corpo-a-corpo entre
produtores culturais e o público, a
gravadora Trama, ligada ao Grupo VR, anuncia a fundação de um
novo segmento, batizado Trama
Universitário. O projeto atualiza
moldes como os do Pixinguinha,
que sobretudo nos anos 70 e 80
garantiu a sobrevivência de muitos músicos brasileiros pelo viés
do contato com um público predominantemente universitário.
Associada a três grandes patrocinadores (Natura, Philips e Vivo), a Trama anuncia um investimento de R$ 13,5 milhões até o final de 2006, numa série de ações
que buscam a integração com a
população universitária nacional.
O projeto, fundamentado no
tripé informação-trabalho-música, será centralizado no portal
www.tramauniversitario.com.
br. Uma agência de notícias localizada na Trama distribuirá conteúdo próprio e informações produzidas por órgãos estudantis de
informação. Deve render um fanzine impresso também.
No quesito trabalho, a proposta
é criar um banco de currículos e
aproveitar a estrutura da VR em
recursos humanos para contribuir na criação de empregos.
A parte musical, enfim, intensificará um circuito universitário já
cobiçado pela Trama, levando
shows para dentro das universidades -o elenco da casa será privilegiado, mas André Szajman,
32, um dos presidentes da Trama,
afirma que o projeto está aberto à
participação de outros artistas.
De início, o raio de ação dos
shows está centrado no eixo Rio-São Paulo, mas Szajman promete
que o circuito será estendido a faculdades do Brasil inteiro.
O acesso a todos esses serviços
será gratuito, sempre. Mas que
objetivos comerciais orientam as
quatro empresas envolvidas?
"O projeto não tem objetivo comercial, quer integrar e apoiar. A
venda e o lucro são conseqüências
disso. Não é preciso colocar marca na cara das pessoas, isso gera
uma rejeição muito grande junto
a um público que é mais ideologizado." A Trama, no entanto, já
promoveu duas grandes sessões
de corpo-a-corpo, uma com cem
representantes universitários e
outra com 60 reitores brasileiros.
Se o comércio imediato não é a
meta, tampouco o é a reativação
política da comunidade universitária, segundo Szajman. "Decidimos que não devemos entrar em
assuntos políticos ou de greve.
Mas, se o objetivo é a integração, é
claro que podemos ajudar a fortificar o movimento estudantil.
Mais uma vez, a política é conseqüência posterior de um trabalho
bem-feito, não um objetivo", diz.
As caravanas passam.
PROJETO PIXINGUINHA. Primeira
caravana em São Paulo, na próxima
quinta-feira, às 20h. Onde: Sala Guiomar
Novaes da Funarte (al. Nothmann, 1.058,
Campos Elíseos, SP, tel. 0/xx/11/3662-5177). Quanto: R$ 5.
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