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CRÍTICA
Manoel Carlos consagra novela-crônica
BIA ABRAMO
COLUNISTA DA FOLHA
A partir da próxima sexta,
o Brasil vai mudar. As preocupações, as polêmicas, as conversas serão outras. É que saem
as "Mulheres Apaixonadas", de
Manoel Carlos, entra "Celebridade", de Gilberto Braga.
O imaginário coletivo será lançado das paixões femininas e patologias do amor para as brigas
de poder.
As chamadas da nova novela já
indicam que com Gilberto Braga
estamos de volta ao melodrama
como se deve. Há bem e mal, vilões -um casal, por sinal, lindo e
jovem-, há conflito, há drama.
Há riqueza e glamour de um lado, e subúrbio de outro. A mocinha, sabe-se já antes mesmo de
começar a novela, vai pastar até
chegar à felicidade.
A velha, por sua vez, consagrou
de uma vez por todas aquilo que
já se anunciava em "Laços de Família": a novela-crônica de Manoel Carlos. Diferentemente da
maioria das novelas, que se assemelham em termos de estrutura
ao romance (que, como a novela,
tinha sua trama desvelada ao leitor de forma seriada no século
19), o estilo de Manoel Carlos é
um formato ainda mais híbrido,
que se aproxima de certa forma
da crônica.
Ciclos
O autor comporta-se como um
cronista que estivesse observando um grupo de pessoas movimentando-se em uma cidade, ou
melhor, pedaços dessa cidade
idealizados. Manoel Carlos inventa um grupo de pessoas, dá a
elas alguns "temas" -a velhice,
o ciúme doentio, a violência doméstica, o amor proibido- e daí
passa a observar e registrar suas
movimentações.
Não há propriamente ação nas
histórias de Manoel Carlos -os
capítulos se enchem de situações
que se repetem ciclicamente,
mas não se desenvolvem de fato.
Os diálogos são declaratórios,
circundando os temas ou fazendo referências canhestras ao
mundo fora da novela.
Apesar do ritmo exasperantemente lerdo, os elevados índices
de audiência obtidos tanto por
"Mulheres Apaixonadas" quanto
por "Laços de Família" sugerem
que essa nova modalidade de novela, de poucos acontecimentos e
muitos personagens, caiu no
gosto do público.
É uma novela quase sem expectativas, ou melhor, de esperas
amenas e quase nenhuma reviravolta na trama. Tanto é que o final não suscitou lá muita torcida
-na verdade, o que há, de fato,
para solucionar numa trama que
não tem problemas? A narrativa
nesse tipo de novela é de tal modo esgarçada que o final virá com
um suspiro de alívio.
Como na crônica das paixões
patológicas de Manoel Carlos
não há exatamente maus, mas
gente doente, perturbada, psicopata em diversos graus, o final
não terá punidos ou recompensados, e sim curados ou incuráveis. O caso mais extremo, o espancador Marcos (Dan Stulbach), dizem os boatos, encontrará a morte, a negação mais
veemente da cura.
biabramo.tv@uol.com.br
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