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Crítica
Filme retrata a obsessão pela morte
INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA
A morte já foi mais solene
neste mundo. Se pensamos no
enterro de, digamos, "Imitação
da Vida", vemos que ele compensa, em termos de eternidade, todas as dores e humilhações que Annie Johnson sofrera, por ser negra.
Mas Annie Johnson não pediu todas as honras que lhe foram concedidas post-mortem:
os que a cercavam, assim como
os espectadores, todos partilhando a mesma culpa, concordavam que era necessário uma
forma de compensação.
Em "A Falecida" (Canal
Brasil, 0h30, 14 anos), é a própria Zulmira quem planeja seu
enterro com pompa e circunstância, como se o fim glorioso a
limpasse das tristezas da vida.
Não é exagero dizer que, a partir de horas tantas, ela vive para
a morte.
Como o filme é de Leon
Hirszman, o aspecto trágico
desse enredo perde força em
proveito da vida suburbana,
dos pequenos golpes, baixezas,
torpezas de que são capazes os
personagens, na maior parte
das vezes por dinheiro.
Não é de espantar. Era 1965,
no cinema novo, e ainda não
havia chegado o momento de
encarar o trágico de Nelson Rodrigues diretamente, como o
faria a partir de "Toda Nudez
Será Castigada". Não são tanto
considerações sobre o homem
como ser decaído que se releva,
mas uma sociedade que os torna tais quais são. Ainda que esse tipo de olhar contrarie o de
Nelson Rodrigues, existe tanta
intensidade nessa busca que no
fim tudo tende a se encontrar.
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