|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
HQ retrata vida de vilão pernambucano
Cabeleira, bandido que aterrorizou o Nordeste no séc. 18, é tema de história violenta e cheia de ação
PEDRO CIRNE
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Era uma vez um roteiro que
levava para o cinema um romance escrito no século 19 sobre um homem que viveu no
Brasil do século 18. Este enredo
deu voltas e se transformou na
recém-lançada história em
quadrinhos "O Cabeleira", que
traz a curta vida de um assassino que viveu e atuou em Pernambuco: o Cabeleira do título.
Diz a tradição nordestina, e
repetem algumas canções de
cordel, que José Gomes, o Cabeleira, foi um bandido violento e de cabelos compridos (daí o
apelido) que aterrorizou cidades do Nordeste brasileiro
acompanhado de seu pai, um
homem talvez ainda mais sem
coração que ele próprio.
Pai e filho não tinham limites: padre, policial, pessoas humildes... Qualquer um podia
ser vítima de suas armas. Os
que sobrevivessem a um ataque
certamente estariam mais pobres depois. A história deles levou o escritor Franklin Távora
a publicar, em 1876, o romance
"O Cabeleira".
Décadas depois, no início do
século 21, Leandro Assis e Hiroshi Maeda participaram de
um laboratório de roteiros para
cinema inscrevendo uma adaptação do livro de Távora.
O texto foi selecionado e retrabalhado pelos autores. Uma
vez pronto, o convite para que o
roteiro tomasse forma veio de
outra mídia: uma editora de
quadrinhos.
O artista Allan Alex deu formas às idéias e palavras criadas
pela dupla. Produziu um personagem forte e calado, de vida
sofrida e olhar duro, de movimentos brutos.
As cenas são, em sua maioria,
sombrias e duras. Cabeleira
não teve uma vida fácil -e muito menos suas vítimas. É natural, portanto, que as ilustrações
carreguem um pouco dessa dolorida secura.
Entre as lutas e fugas do bando formado por Cabeleira, seu
pai (Joaquim Gomes) e um
aliado (o ex-escravo Teodósio),
são mostradas cenas de sua infância e juventude -não há
maturidade, pois ele não viveu
para tanto.
"O Cabeleira" é uma história
violenta e com cenas de ação,
mas que se assemelha a um
drama pela representação da
dor do protagonista.
Teria sido mais fácil mostrá-lo como um monstro sem alma,
mas os autores do título decidiram apresentar o lado humano
do assassino.
Não importa se o meio é um
romance, um filme ou uma HQ:
uma história bem narrada consegue entreter o leitor (ou espectador) e levá-lo a um mundo
diferente. Neste caso, uma terra sem justiça em que a única
lei é a do mais forte.
O CABELEIRA
Autores: Allan Alex, Leandro Assis
e Hiroshi Maeda
Editora: Desiderata
Quanto: R$ 39,90 (136 páginas)
Texto Anterior: Resumo das novelas Próximo Texto: Mostra busca ver a atualidade da obra de Matisse Índice
|