|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
5ª Bienal traz Christian de Portzamparc, defensor da integração entre rua e edificações
Arquitetura de portas abertas
FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL
Em uma semana, São Paulo torna-se a capital da arquitetura. Durante 50 dias, mais de 300 arquitetos, brasileiros e estrangeiros, vão
expor seus projetos mais ousados
na 5ª Bienal Internacional de Arquitetura e Design (BIA), nos 26
mil m2 do pavilhão da Bienal, no
parque Ibirapuera.
Como em qualquer bienal, há
de tudo um pouco. De projetos de
estudantes a obras de arquitetos
consagrados como o inglês Peter
Cook e a iraquiana Zaha Hadid. A
concentração de Pritzker, o Nobel
da arquitetura, não é pequena. Pelo menos seis dos 25 ganhadores
do prêmio, criado em 1979, estarão presentes: Norman Foster
(99), Oscar Niemeyer (88), Álvaro
Siza (92), Christian de Portzamparc (94), Sverre Fehn (97) e Renzo Piano (1998).
Portzamparc participa com o
projeto para a Cidade da Música,
que deve ser inaugurado no Rio
de Janeiro em 2005. A encomenda
tem por base o sucesso de um
projeto semelhante, a Cité de la
Musique, no parque La Villette,
em Paris, criada em 1984. Ele é o
único dos que receberam o Pritzker a participar do fórum de debates da BIA, no dia 19, às 14h, no
pavilhão da Bienal.
Na mostra, o arquiteto francês
comparece com uma sala especial
junto com a mulher, Elizabeth,
brasileira que se dedica mais à
área de design. Por isso, o casal
participa no módulo de Arquitetura e Design, um dos oito da BIA.
Na última terça, Portzamparc,
responsável também pela torre do
conglomerado LVMH, em Nova
York, conversou com a Folha, por
telefone, de seu escritório em Paris. Em português fluente, ele contou sobre o que vai apresentar na
Bienal e o projeto no Rio. Leia a
seguir os melhores trechos:
Folha - O que o sr. irá mostrar em
São Paulo?
Christian de Portzamparc - A exposição foi organizada a partir de
outra mostra, feita no Paço Imperial, no Rio, no início do ano. Há
três salas. Uma com obras minhas, outra com trabalhos de Elizabeth, e a terceira são projetos
comuns. Indico que meu assunto
é a relação entre arquitetura e urbanismo. Um dos ideais da arquitetura moderna é um desligamento entre a arquitetura e a cidade, o
que acho um erro. Minha pesquisa sempre leva em conta a situação específica onde o projeto deve
acontecer, pois, desde o início,
percebi que a riqueza do contexto,
seja geográfico ou histórico, não
pode ser deixada de lado. Levei isso muito em conta no projeto do
Rio e, por isso, é a primeira obra
para quem entrar em minha sala.
Folha - E como o sr. criou a Cidade
da Música, no Rio?
Portzamparc - Lá a questão foi de
filosofia estética. Sobrevoei a cidade junto com o prefeito [Cesar
Maia] e constatei que a Barra não
possui nenhuma marca especial,
seja natural ou arquitetônica. Por
isso, achei que o prédio deveria ter
uma posição simbólica. Ele estará
elevado a dez metros do chão,
com um pé direito de 20 metros.
Dele será possível observar as
montanhas, criando um novo
diálogo. Creio que será uma grande varanda brasileira, que pode
parecer inspirado nas obras de arquitetos como Niemeyer, [Lúcio]
Costa e [Affonso Eduardo] Reidy,
mas não foi meu propósito. A
obra surgiu a partir de minhas reflexões de vazio e do pleno, de
uma geometria de curvas que se
completam como o yin e o yang.
Folha - Joel Sanders, curador de
Nova York na Bienal, afirma que a
arquitetura é responsável por criar
identidade na cidades, mas que
também corre o risco de criar espetáculos, como o caso de Frank
Gehry, em Bilbao. O sr. concorda?
Portzamparc - Há sempre o risco
do exagero da má arquitetura que
tem uma presença forte e do arquiteto que faz a obra como espetáculo. Na Barra, por exemplo, há
grandes volumes arquitetônicos,
que são caixas sem preocupação
externa. Isso não é espetáculo,
mas não resolve o problema. O
museu de Gehry deve ser bem visto, pois tem uma grande magneticidade e funciona no local. Em
Nova York, isso já é mais difícil de
ocorrer e, por isso, procurei fazer
a torre da LVMH bem integrada
àquela quadra. É uma questão de
relação. No Rio, assumi uma presença forte e um pouco espetacular, pois, do contrário, o prédio
não teria visibilidade. O importante é a relação com a cidade.
Folha - O sr. pode falar um pouco
sobre o conceito de quadra aberta?
Portzamparc - A origem dessa
idéia vem da pesquisa que desenvolvo sobre a cidade. O urbanismo moderno recusou as ruas e
quadras, valorizando os grandes
edifícios. A idéia dos modernos
estava centrada em retirar da cidade seu passado para transformá-la numa utopia total, na qual a
cidade era um elemento funcional. Mas ela é muito mais complexa. A possibilidade de existência
de vários conjuntos distintos é
fundamental para entender a cidade como um processo e não como algo pronto. A quadra aberta
é a possibilidade de inserir prédios isolados, mas que estejam
conectados com a rua, com espaços como jardins, que garantem
um espaço público que possa ser
usado por todos os cidadãos.
5ª BIENAL INTERNACIONAL DE
ARQUITETURA E DESIGN. Mostra com
obras e projetos de mais de 300
arquitetos e designers. Curadoria: Pedro
Cury e Ricardo Ohtake. Quando: abertura
dia 14 (para convidados); seg. a qui., das
9h30 às 23h; sex. a dom., das 9h30 às
24h. Até 2/11. Onde: pavilhão da Bienal
(parque Ibirapuera, portão 3, SP, tel. 0/
xx/11/5574 5922). Quanto: R$ 10.
Texto Anterior: Música: "Canto" encurta distância entre sambas de RJ e SP Próximo Texto: Russo estreante ganha Leão de Ouro Índice
|