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O drama dos teatros
Em visita a 14 teatros de SP, Folha encontra problemas de segurança em 4: CCSP, Oficina, Ruth Escobar e Satyros; e é impedida de entrar em 2: Imprensa e Renaissance
EDUARDO SIMÕES
LUCAS NEVES
SYLVIA COLOMBO
DA REPORTAGEM LOCAL
A Folha selecionou 14 teatros da cidade de São Paulo para verificar suas condições de
segurança e tentar responder à
pergunta: pode se repetir a tragédia que aconteceu no teatro
Cultura Artística, no mês passado, quando um incêndio destruiu sua sala principal?
Foram escolhidos espaços
que recebem diferentes tipos
de público. Entre os comerciais, Alfa, Frei Caneca, Folha,
Renaissance; entre os tradicionais, Ruth Escobar, Sérgio Cardoso, Centro Cultural São Paulo, Municipal, Imprensa e Tuca; e, entre os alternativos, Oficina e Satyros, além de duas salas da rede Sesc.
A reportagem procurou conferir os principais requisitos
que garantem a segurança de
um espaço em caso de incêndio: a manutenção das instalações elétricas, os dispositivos
de combate ao fogo, as saídas
de emergência, entre outros.
A maior parte das visitas, feitas ao longo das três últimas semanas, teve a presença da fotógrafa e iluminadora Lenise Pinheiro, que há mais de 20 anos
transita pelos teatros paulistanos, onde também trabalha.
No levantamento, quatro deles apresentaram condições
precárias e oito se mostraram
relativamente bem. Renaissance e Imprensa não quiseram
receber a reportagem.
Situação crítica
Entre os primeiros, o Ruth
Escobar foi um dos que apresentou problemas graves: fiação correndo sobre carpete,
quase todos os refletores sem
os cabos de aço -que são a segunda garantia de que eles não
se soltem-, tomadas sem espelho de proteção. Nas coxias, havia muitas lâmpadas sem cúpula, a poucos centímetros de pedaços de cenários -o que facilitaria a propagação do fogo.
Havia ainda gambiarras
-instalações elétricas improvisadas- com fita isolante em
uma das três cabines técnicas.
Não havia extintores ou hidrantes dentro da sala menor
(Miriam Muniz) e, na maior
(Dina Sfat), uma porta de emergência estava quebrada, sem a
barra antipânico esquerda.
Ali, a reportagem também
viu cadeiras cujos encostos,
tortos, atrapalhavam a circulação pela fileira de trás -o que
poderia causar quedas se preciso deixar o local com rapidez.
"O pior problema dos teatros
de São Paulo é o extremo desleixo e a irresponsabilidade
com instalações elétricas. Não
há razão para fios ficarem expostos: têm de estar em calhas
ou condutores protegidos", diz
o arquiteto Cesar Bergstrom,
diretor de urbanismo do Sinaenco (Sindicato Nacional das
Empresas de Arquitetura e Engenharia Consultiva).
Na cabine de som e luz da sala Jardel Filho, no Centro Cultural São Paulo, a instalação
elétrica estava em contato com
o carpete, que tinha rasgões. Na
sala Paulo Emílio Salles Gomes, as tomadas dos refletores
estavam precárias, assim como
nos camarins. E também foram
encontradas gambiarras. Tampouco havia sprinklers (sistema que solta água assim que sinais de fogo são detectados).
No teatro Oficina, os principais problemas observados foram, além das gambiarras, refletores sem cabo de aço, a falta
de equipe fixa de manutenção e
ausência de saídas de emergência. A porta de entrada do espaço, que tem formato de uma
grande passarela, é a única rota
de fuga em caso de acidente.
"Não é possível considerar
seguro um lugar que só tem
uma saída, mesmo que ela seja
ampla. A primeira coisa que
uma pessoa pensa quando vê
fogo é em fugir, e não em pegar
um extintor. Por isso, a partir
do projeto inicial, os teatros
têm de ser pensados com alternativas de saída bem claras e sinalizadas", diz Bergstrom.
Nos dois espaços dos Satyros,
esse problema se repete. A sala
1 tem uma saída que dá para
dentro do prédio da praça Roosevelt no qual está localizado, e
a sala 2 não possui nenhuma.
Apesar de não poderem ser
classificados formalmente como "teatros" por terem capacidade inferior a cem pessoas
(são definidos por lei como "salas de reunião"), ainda assim os
espaços dos Satyros não adotam procedimentos de segurança importantes.
As cortinas não recebem tratamento antichamas, não há
sprinklers e os refletores de luz
não têm cabo de segurança.
De forma geral, os administradores dessas quatro salas dizem que estão trabalhando para resolver os problemas.
Melhores condições
Nos outros teatros, a reportagem encontrou condições
melhores. A maior parte deles
tem dispositivos de combate a
incêndio, como cortinas, carpete, revestimento das cadeiras
com tratamento antichamas,
estruturas de concreto e não de
madeira como base da platéia e
regras para o palco, como proibição de fumar nas cenas.
Apesar de considerar essas
medidas importantes, Bergstrom relativiza a eficiência da
aplicação de produtos antiinflamáveis. Para ele, tratam-se
de lenitivos, pois funcionam
por tempo curto. "Um produto
antichamas impede algo de
queimar por um período curto
de tempo. O essencial é haver
espaço entre fileiras e corredores para escape imediato."
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