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CRÍTICA
"Friends" fixa o humor da vida urbana
BIA ABRAMO
COLUNISTA DA FOLHA
A série "Friends", como já
se sabe, vai acabar ao se encerrar sua décima temporada,
em maio de 2004. Nesta semana,
numa antecipação do clima que
deve tomar fãs no mundo inteiro, Jennifer Aniston derramou
lágrimas ao falar de seus colegas
de seriado no programa de
Oprah Winfrey. Não havia melhor lugar para iniciar a maratona de despedida da série.
O último episódio de
"Friends", provavelmente, baterá uma meia dúzia de recordes de
audiência, de preço do minuto de
publicidade etc., a exemplo do
que aconteceu com o final de
"Seinfeld", em 1998. Não é a série
mais longeva na TV norte-americana -este recorde pertence a
"Frasier", 11 anos no ar- nem a
mais popular, mas é aquela que,
entre as que estão em exibição,
combinou bons índices de audiência e prestígio crítico.
De muitas maneiras, "Friends"
é um marco na história das comédias de situação. Ao lado de
"Seinfeld", fixou um certo humor jovem adulto urbano. Ainda
que o famoso "seriado sobre o
nada" estivesse léguas à frente
em termos de ironia e que seus
personagens fossem mais desajustados , partilha com "Friends"
o mesmo universo de preocupações da vida urbana moderna.
De lá, da ilha de Manhathan,
cenário dos dois seriados e balão-de-ensaio dessa cultura, é
que irradia tal modo de vida,
constituído de relacionamentos
amorosos mais ou menos fadados ao fracasso, muita ansiedade
sexual, um feroz consumismo,
individualismo beirando à anomia -e, ao mesmo tempo, senso
de humor de intensidade quase
maníaca.
É notável o trabalho de roteiro
e diálogos de "Friends", que, apesar de estar no ar há quase uma
década, volta e meia ainda consegue fazer rir de verdade. O seriado também teve a sorte (ou a
competência, provavelmente
uma mistura dos dois) de achar e
revelar ótimos talentos cômicos,
sobretudo os femininos. Jennifer
Aniston, apesar da cara e nariz de
patricinha, é atriz de variados recursos para a comédia. Lisa Kudrow, ajudada também pelo personagem mais amalucado livre
de ligações românticas "sérias"
para o andamento da história,
impõe-se como um dos maiores
de sua geração.
Mas "Friends", ao contrário de
"Seinfeld", também acende muitas velas para o conformismo.
Parte do enorme apelo da série
-dez anos no ar, sempre entre
os primeiros lugares de audiência no concorridíssimo horário
nobre dos EUA- reside nesse
balanço entre a comédia competente e os cânones do bom-mocismo televisivo, que, de resto, é a
marca das nove entre dez sitcoms bem-sucedidas. Depois de
uma década de idas e vindas, de
acertos e desacertos, os amigos
do Central Park, ao final, vão deixar de brincar de adultos e tornarem-se, de fato, adultos como se
espera, com casamentos, filhos,
ganhadores e perdedores e, claro,
mais choradeira.
E-mail: biabramo.tv@uol.com.br
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