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Após 18 milhões de discos vendidos e 5 prêmios Grammy, Norah Jones retorna melancólica
Diva sem pose
CARLOS CALADO
ENVIADO ESPECIAL A NOVA YORK
Quem a visse entrando no escritório da gravadora EMI, na imponente Quinta Avenida, em Nova
York, na última segunda-feira, dificilmente notaria que aquela era Norah Jones, a cantora e compositora de 24 anos, cujo álbum de estréia, "Come Away With Me", já
vendeu mais de 18 milhões de cópias no mundo desde 2002. Sem
falar nos cinco prêmios Grammy
que ela levou para casa, no ano
passado.
"Acho ótimo que não me reconheçam na rua, porque é muito
bom poder ser normal. Não ligo
muito para a minha imagem",
disse ela à Folha, pouco depois,
usando jeans, cabelos presos e os
mesmos óculos pretos com os
quais aparece só na contracapa de
"Feels like Home", seu novo CD
que chega às lojas brasileiras amanhã, em lançamento simultâneo com o mercado internacional.
Segundo a revista norte-americana "Billboard", a expectativa do mercado é de que o novo trabalho
de Norah seja o primeiro grande
sucesso de 2004, nos EUA. Grandes cadeias de lojas prevêem que
o álbum deve alcançar o primeiro
lugar nas paradas logo na primeira semana de exposição.
Curiosamente, Norah diz que
não compartilha dessa expectativa. "Não sou ingênua. Sei que este disco não vai vender 18 milhões
de cópias. Se as pessoas gostarem,
ótimo. Se não gostarem, tudo
bem, porque fiz o disco que eu deveria fazer", diz ela, às vésperas de
ver seu carisma musical ser novamente testado nas lojas.
Uma declaração como esta pode até soar arrogante, mas qualquer um que já tenha visto a tímida Norah Jones em cena, cantando sentada atrás de seu piano, sabe que ela é uma dessas artistas
transparentes.
Talvez venha daí a sensação de
sinceridade que ela costuma
transmitir em suas canções suaves e singelas, com as quais conquistou um público de diferentes
faixas etárias, pouco interessado
nas poses excessivamente erotizadas de cantoras pop da mesma geração de Norah, como Britney
Spears, Christina Aguilera ou Beyoncé.
Demonstrando valorizar mais a
música do que o marketing, Norah fez questão de que as gravações do novo disco não fossem
prejudicadas pelos planos de vendas. "A gravadora adoraria que o
álbum estivesse nas lojas antes do
final do ano, mas eu não agüentaria fazer tudo na correria", conta,
lembrando que 11 das 13 canções
do álbum começaram a ser gravadas em abril do ano passado. "Só
voltamos ao estúdio em novembro para finalizar o álbum, depois
de tocar durante todo o verão."
Mais do que por referências que
aparecem em algumas canções do
disco, segundo Norah, o título
"Feels like Home" tem a ver com
o fato de continuar trabalhando
com os mesmos músicos do primeiro CD. "Já viramos uma pequena família. Estar junto com essa banda faz com que eu me sinta
em casa", justifica.
E como Norah compararia o
novo disco com o primeiro?
"Acho que esse álbum é uma progressão natural do anterior. É um
retrato preciso do que eu e a banda estamos fazendo agora", sintetiza, dizendo-se "feliz com o resultado". "Acabou saindo até melhor do que eu imaginava. Eu não
poderia fazer nada diferente",
completa.
A timidez da cantora volta a se
manifestar quando o assunto é a
gravação de "Melancholia", composição do lendário jazzista Duke
Ellington (1899-1974), para a qual
escreveu uma letra, quatro anos
atrás. Norah chegou a cantá-la em
shows, mas sentiu vergonha de
pedir autorização à família do
compositor para gravá-la no primeiro disco.
"Não é fácil escrever versos para
uma música que foi composta 50
anos atrás por alguém como Duke Ellington, que nem está mais
aqui para aprovar ou não a letra.
Eu espero que ela não ofenda ninguém", desculpa-se, contando
que ficou surpresa quando Bruce
Lundvall, o presidente de sua gravadora, a Blue Note, surgiu com a
permissão, pedindo que ela a incluísse no novo disco.
Apesar do interesse que revela
por canções mais tristes, Norah
garante que esse não é um reflexo
de sua personalidade. "É engraçado, isso acontece, mas não sei explicar o porquê. Se você ouvir
meu primeiro disco, pode mesmo
achar que eu sou uma pessoa melancólica, mas eu realmente não
sou assim. Embora goste de músicas calmas e doces, às vezes eu sou
até bem vibrante", diz, rindo.
Quanto à sua primeira vinda ao
Brasil, que chegou a ser anunciada em 2002, ela não faz mais promessas. "Devíamos ter ido no final do ano passado, mas estávamos cansados do primeiro disco e
achei que não seria justo com o
público tocar só o material novo."
"O Brasil é um lugar que eu
morro de vontade de conhecer e
quero fazer isso com tempo livre
para ficar alguns dias de folga",
diz ela, reafirmando sua condição
de "fã de Elis Regina".
O jornalista Carlos Calado viajou a convite da gravadora EMI
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