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AUDIOVISUAL
Arquivo, o maior da América Latina, possui curta que exalta o poderio americano narrado pelo cineasta
Argentino resgata raridades de Orson Welles e Elis Regina
CAROLINA VILA-NOVA
DE BUENOS AIRES
Um colecionador argentino
reúne raridades de encher os
olhos dos amantes do cinema, da
televisão e do rádio, como um filme feito para animar tropas americanas narrado por Orson Welles
(1915-85) e um raro especial com
Elis Regina (1945-82).
Dono de um acervo com mais
de 2 milhões de itens, Roberto di
Chiari, 70, comanda com os filhos
e a mulher o Archivo DiFilm
(www.archivodifilm.com), o
maior na América Latina e o
quarto no mundo.
Em 50 anos de atividade, Di
Chiari coletou, entre outros, 25
mil filmes, 132 mil folhetos e pôsteres de filmes. Há também, em
seu acervo, 180 mil rolos de televisão, 34 mil programas de rádio e
cinco mil documentos históricos
-muitos deles inéditos ou que se
julgava perdidos.
"Dediquei-me a buscar coisas
que são difíceis de obter ou que
dizem não existir mais", diz Di
Chiari, à Folha, em Buenos Aires,
e mostrou diversos itens de seu
acervo. "Há filmes que rastreei
por 40 anos."
Invenção
Uma das raridades que Di Chiari possui é uma co-produção brasileiro-argentina muda que traz a
assinatura de um dos pioneiros
do cinema no Brasil, Pablo Benedetti, o italiano que dirigiu "Barro
Humano" entre 1927 e 1929, clássico do cinema mudo brasileiro.
Trata-se do longa-metragem "A
Esposa do Solteiro" (1925) -ou
"A Mulher da Meia-Noite", como
foi chamado na Argentina-, dirigido pelo italiano Carlos Campogalliani e estrelado por Letitia
Quaranta, uma das atrizes mais
famosas na época. "Foi muito difícil de conseguir, nem mesmo os
brasileiros conhecem", diz Di
Chiari, que, após rastrear o filme
por 25 anos, comprou-o de um
colecionador português.
A trama -com direito a aulas
de tango a bordo de um navio a
vapor- se desenlaça entre Rio e
Buenos Aires, com um "mocinho" acusado injustamente de
roubo enquanto tenta arduamente conquistar a "mocinha".
A novidade foi que o filme pôs
em prática, pela primeira vez, um
invento de Benedetti: um sistema
que permitia à orquestra do cinema executar uma partitura que
aparecia na tela do filme, como se
fosse uma legenda.
"Enquanto os músicos olhavam
a tela, iam tocando o tema musical que correspondia ao filme",
explica Di Chiari. Até então, tocavam temas que "não tinham nada
a ver". A técnica, chamada "cinematrofia", foi patenteada em 1912,
conforme mostra o diário oficial
de 18 de abril, que o colecionador
também possui.
"Pablo Benedetti foi um pioneiro não apenas da indústria brasileira de cinema, mas da indústria
mundial, porque só a ele ocorreu
fazer uma coisa como essa", afirma. Segundo Di Chiari, o filme fez
grande sucesso na época, mas depois caiu no esquecimento. A invenção não chegou a ser muito
utilizada porque logo depois, em
1927, surgiu o cinema sonoro.
Elis Regina
Benedetti não é o único brasileiro no acervo de Di Chiari. Ele
também tem os rolos da gravação
da primeira edição do programa
especial de Elis Regina produzido
pela TV Globo para a "Sexta-Feira
Nobre", em 1969, com direção de
Luiz Carlos Miele e cinegrafia do
argentino Federico Padilla.
Em um dos trechos, Elis anda
por um cenário feito de caricaturas de Lan, com as quais conversa
e canta. Também passeiam por lá
Vinicius de Moraes, Jair Rodrigues, Frank Sinatra e até Pelé, que
dá um canja cantando uma música que fez numa das excursões
com o Santos. Em outro trecho,
Elis canta um tango em homenagem a Carlos Gardel (1890-1935).
Tanques
Outra raridade do acervo é o filme "Tanks" (1942), um documentário que teria sido produzido por encomenda das Forças Armadas americanas com o objetivo
de "alentar" as tropas que iriam
lutar na Segunda Guerra.
O curta, de dez minutos, é uma
exaltação do poder militar dos
EUA. Apresentado por "The Office for Emergency Management",
"Tanks" mostra todo o processo
de produção de um tanque desde
a linha de montagem até seu poder de destruição nos campos de
batalha. A trilha oscila entre o suspense à Alfred Hitchcock e o tom
triunfalista dos hinos marciais.
Por motivos desconhecidos,
"Tanks" não chegou a ser projetado para os combatentes. Durante
anos, permaneceu inédito. Di
Chiari afirma possuir uma das
poucas cópias existentes do filme
no mundo. Mas, o que torna
"Tanks" ainda mais interessante,
é a participação do diretor Orson
Welles no projeto -aliás, o único
nome que consta nos créditos do
filme, como narrador.
"Forjamos o armamento da vitória. Criamos o tanque de ferro
blindado M-3, o tanque da destruição, um novo poder que se soma à democracia, um temeroso
veículo da morte", narra Welles.
A seguir, imagens exibem o poder
de tiro dos canhões "contra o tirano", em uma guerra que o narrador qualifica de "desesperada".
Anos antes, em 1938, o diretor
havia levado os Estados Unidos
ao pânico com a transmissão por
rádio de uma adaptação de "A
Guerra dos Mundos", de H.G.
Wells. Foi tamanho o realismo da
narração que milhares de americanos acreditavam estar sendo vítimas de uma invasão alienígena.
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