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CRÍTICA
"Contos da Meia-Noite" coloca texto na TV
BIA ABRAMO
COLUNISTA DA FOLHA
É de não perder: na semana
que entra, a TV Cultura solta
mais um lote de "Contos da
Meia-Noite" inédito. Talvez a
mais inovadora e ousada aposta
em teledramaturgia surgida na
televisão do ano passado, a série
dirigida por Éder Santos surpreende pela simplicidade.
São programinhas curtos, entre dez e 15 minutos, em que um
ator faz a leitura de um conto. É
tudo simples e, ao mesmo tempo, de resultados muito ricos.
Sentado em uma cadeia e colado ao texto, o ator/atriz usa seus
recursos de voz, expressão, gestos da mão, movimentação do
tronco e, é claro, retira do texto
toda a ação e emoção. Santos coloca efeitos, a trilha sonora e edita. Um texto breve apresenta o
conto e seu autor, e isso é tudo.
O ator/atriz interpreta, não entrando no papel de algum dos
personagens, mas sim se colocando no lugar do narrador/ autor do conto. Aí reside a diferença de "Contos da Meia-Noite"
para as dezenas de tentativas de
usar literatura como matéria-prima já encetadas pela televisão
desde seus tempos pré-históricos. Em vez de transpor para a
TV o universo imaginado pelo
escritor e transformá-lo em conteúdo, neste caso os recursos cênicos e da linguagem da televisão
conseguem aproximar o espectador da experiência da leitura.
Ouvido, o texto parece mais
compreensível e amigável. Ao
mesmo tempo, a falta de cenário
e de caracterização do ator/atriz
exigem que a imaginação faça a
sua parte.
Assim, o espectador de fato
desprende-se daquilo ali que está
acontecendo na sua frente e "vive" a narrativa com seus recursos
internos. O mérito da série é
transformar-se, de fato, numa
ferramenta para o espectador
olhar aquele texto em particular.
É, de fato, um achado. No sentido pedagógico, que sempre foi
associado à idéia de usar textos
da literatura para a televisão, talvez seja a experiência mais bem-sucedida de todas. Em vez de
adaptar o texto para a televisão, o
texto ganha uma possibilidade
de aparecer na televisão e de ser
fruído (quase que) como texto.
Além da idéia boa, outros elementos contribuem para o êxito
da série: o time de atores reúne
gente como Marília Pêra, Maria
Luísa Mendonça, Antônio Abujamra; entre os contos selecionados há autores como Monteiro
Lobato, Dalton Trevisan, João do
Rio e, claro, há Éder Santos, dirigindo e montando.
Só é pena que vá ao ar muito
tarde: com tanta reprise, a TV
Cultura poderia ter pensado em
mostrar os programas já exibidos em dezembro em horários
menos inóspitos para quem
acorda cedo.
A série começa amanhã com
"A Sombra", de Coelho Neto,
com Beth Goulart. Na terça, é a
vez de "Luz na Varanda", de Dalton Trevisan, com Marília Pêra.
Seguem-se "O Hotel", de Victor
Giudice, "Bandeira Branca", de
Luis Fernando Veríssimo, e "O
Bebê de Tarlatana Rosa", de João
do Rio.
E-mail: biabramo.tv@uol.com.br
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