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TV paga cresce menos do que o esperado e revê suas projeções
Realidade virtual
DANIEL CASTRO
COLUNISTA DA FOLHA
DIEGO ASSIS
DA REPORTAGEM LOCAL
Era uma vez um negócio que prometia ser a
galinha dos ovos de ouro: a TV paga no Brasil.
O site da Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) estampa
até hoje a projeção, feita
nos anos 90, de que o
país terá no final deste
ano 10 milhões de domicílios assinantes, quase
um quarto de todos os
lares com televisores no
país. Em 2005, esse número saltará para 16,5
milhões, crê a Anatel.
A realidade é outra.
Depois de experimentar
um crescimento de 18%
em 2000, a TV paga brasileira estagnou em 2001
e caiu em 2002. No final
do ano passado, eram
3,458 milhões os domicílios que pagavam em
média R$ 60 por mês para ter acesso a canais de
jornalismo, séries, filmes e documentários.
Neste ano, esse número
pode ser menor ainda.
Até mesmo projeções mais realistas do que as da Anatel, como as
da empresa de pesquisas de TV
por assinatura PTS, erraram.
A PTS projetava em 2001, em
um cenário pessimista, que naquele ano o total de domicílios assinantes do país seria de 3,852 milhões. Os números reais foram
quase 300 mil menores (3,559 milhões). Na semana passada, a empresa divulgou um novo estudo
com novas perspectivas. A projeção que fazia para 2001 vale agora
só para 2008, quando estima, em
cenário conservador, que haverá
um mercado de 3,884 milhões de
domicílios com TV paga.
Por que as projeções falharam?
Basicamente, diz o mercado de
TV paga, porque levavam em
consideração que o Brasil teria
um crescimento econômico acelerado. Como os números macroeconômicos do país pioraram
nos últimos anos, a promissora
TV por assinatura estagnou.
"Se há crescimento econômico,
aumentam os domicílios de classes A e B e consequentemente a
penetração da indústria", afirma
Otavio Jardanovski, diretor da
PTS. "Antes [em 2001], eu tinha
uma perspectiva de crescimento,
mesmo em cenário pessimista,
porque vinha de um histórico de
crescimento [os 18% de 2000].
Agora tenho um histórico de estagnação nos últimos dois anos",
diz Jardanovski.
"Nesse cenário de forte estagnação econômica, até me surpreende que a TV paga tenha mantido
seu nível de atividade. A TV por
assinatura não é um produto essencial, mas ainda é um objeto de
desejo", afirma Alexandre Annenberg, diretor executivo da ABTA (Associação Brasileira de Televisão por Assinatura).
O potencial de sedução dos canais pagos, no entanto, não é mais
o mesmo. Segundo pesquisas do
Ibope, 45% dos telespectadores
que não tinham TV paga em 2000
pretendiam se tornar assinantes.
Em 2001, esse percentual caiu para 29%. No final de 2002, já era de
17%. Desses, a maioria (55%) afirmava estar disposta a pagar no
máximo R$ 40 de mensalidade.
Pacotes a esse preço até existem,
mas o conteúdo (a maioria dos
canais são abertos ou obrigatórios, como TV Senado) é frustrante. Pacotes considerados completos, com os melhores canais de filmes e esportes, estão na faixa de
R$ 100.
Para sair da crise, segundo a ABTA, a TV paga precisaria ter pelo
menos 6 milhões de assinantes
-o que, segundo a PTS, só deve
ocorrer em 2008, e em cenário otimista, com a economia em alta.
Para chegar a 6 milhões de domicílios, segundo Annenberg, o
setor teria que aumentar sua penetração na classe C, hoje de 5%
(cerca de 600 mil assinantes), para
pelo menos 15%. Para isso, as
mensalidades teriam que cair. Há
duas barreiras econômicas: o custo do decodificador e a carga tributária (31%). "Seria importante
se pudéssemos ter pacotes isentos
de impostos", sonha Annenberg.
Mas há outros obstáculos no caminho da TV paga. Endividadas,
as grandes operadoras pararam
de investir. Faltam pacotes montados de acordo com a vontade do
assinante, que tem a sensação de
que paga por algo que não usa. E a
TV aberta brasileira é muito forte
-tem mais de 70% da audiência
dos domicílios com cabo.
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