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CRÍTICA
Falcões em terra de gigantes
RENATA LO PRETE
DA REPORTAGEM LOCAL
O resultado da recém-promovida desregulamentação na mídia
americana será uma programação de TV não apenas menos diversificada, como notaram tantos
críticos, mas também à direita em
relação a seu matiz político atual.
A eliminação, na segunda-feira
passada, de regras que limitavam
a concentração de propriedade
representa uma aliança entre o setor mais conservador da política e
seu correspondente na indústria
da informação, observou à revista
eletrônica "Salon" o homem que
presidiu a agência reguladora das
comunicações durante a maior
parte do governo Clinton.
"A direita", resumiu Reed
Hundt, "quer uma mídia amiga".
O mundo testemunhou essa
amizade na cobertura oficialista
do conflito no Iraque feita pela TV
americana. Recentemente, outro
sinal foi dado com o desprezo do
noticiário pelas evidências de que
a administração Bush mentiu em
sua exposição de motivos para ir à
guerra -em contraste com as cobranças despejadas sobre Tony
Blair pelo jornalismo britânico.
A conta, avalia Hundt, está paga
com o sinal verde à etapa final da
oligopolização. O titular do cargo
que já foi de Hundt na FCC (sigla
em inglês para Comissão Federal
de Comunicações) personifica a
confluência de interesses nessa
votação. Michael Powell, filho do
secretário de Estado, aliado da
Casa Branca e ex-funcionário de
um dos gigantes beneficiados
(AOL Time Warner), afirma que,
tonificadas pelas aquisições, as
empresas investirão em programação menos padronizada.
Para Hundt, o real significado,
como na "novilíngua" de George
Orwell, é exatamente o contrário.
"Não há interesse público em
que menos empresas possuam
mais veículos", disse à Folha. "Só
o governo e os conglomerados
querem. Sua meta não é expandir
a informação, mas restringi-la."
Hundt localiza na administração Nixon (1969-1974) o início da
ofensiva conservadora sobre a
mídia. "Na década passada, em
especial, muitos donos passaram
a injetar seus pontos de vista no
noticiário, o que resultou em uma
inflexão geral à direita."
Na era dos falcões de Bush, a
maioria das trocas de guarda nos
cobiçados postos de comentaristas das emissoras se dá em benefício de vozes conservadoras.
Com poucas exceções, as redes
silenciaram sobre os planos da
FCC até as vésperas da votação.
Rupert Murdoch, dono da mais
governista delas (Fox News), tornou-se símbolo dos protestos
contra a desregulamentação.
Nesse cenário, o futuro da informação independente pode ser resumido na resposta do número
um da Disney quando lhe perguntaram como a ABC News, que
acabara de ser adquirida pelo grupo, deveria tratar a empresa-mãe
em seu noticiário: "Não convém
que a Disney cubra a Disney".
No Brasil, onde TV e concentração de propriedade são sinônimos, convém olhar o exemplo para ter idéia do que nos espera.
A colunista Bia Abramo está em licença
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