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TELEVISÃO
Novela do SBT sobre garota órfã vem alcançando bons índices de audiência e obtém sucesso com público infantil
Mexicana "Amy" segue trilha de "Carrossel"
ISABELLE MOREIRA LIMA
DA REPORTAGEM LOCAL
Uma garotinha órfã, que enfrenta uma sucessão de tragédias
marítimas, familiares e financeiras, é a última edição das novelas
mexicanas infantis do SBT que fazem sucesso no Brasil.
No ar desde 26 de abril, "Amy, a
Menina da Mochila Azul", anda
sobre os rumos traçados por
"Carrossel", que, entre maio de
1991 e abril de 1992, chegou a disputar fortemente a audiência com
a Rede Globo. "Amy" também segue "Carrossel" no duro percalço
seguido pelos personagens.
A novela conta a história de
uma garota que, ainda bebê, é encontrada flutuando no mar, depois de um furacão, por um pescador e sua mulher. Na seqüência,
o pescador fica viúvo e perde todo
o seu dinheiro. Amy, uma menina
esperta e amorosa, é tudo o que
resta a seu lado.
A novela se desenrola com uma
caça a um tesouro perdido e com
a aproximação do verdadeiro pai
de Amy, um homem rico e gravemente doente, sem que ela saiba
sua verdadeira identidade. A história vem alcançando o segundo
lugar na medição de audiência
das 19h. Em 2 de agosto, segunda-feira, "Amy" registrou uma média
de dez pontos, com picos de 13,
atrás somente da Globo, líder do
horário com 46 pontos. Em terceiro lugar, veio a Record (seis
pontos), seguida pela Bandeirantes (três pontos), pela TV Cultura
e pela Rede TV! (ambas com um
ponto).
O que atrai as crianças são as
aventuras vividas pela personagem. É o que explica Victoria Barreto Ghattas, 6, fã de "Amy". "Ela
nada, ela tem um barco, um papagaio. Eu também gostaria de fazer
essas aventuras, queria ter um
barco. A história é mais ou menos
triste, mas mesmo assim eu gosto", conta a menina.
Victoria diz ainda que não há
nada que a desagrade na novela.
"Tudo é muito legal. Essa é a minha novela favorita, a única a que
eu assisto", completa.
Já Rodrigo Autuori, 8, que começou a assistir a novela nas férias, é fã do papagaio -uma espécie de pombo-correio. "Eu não
gosto de quem tenta matar o papagaio. Ele é o mais legal. Assisto a
"Amy" por causa dele", conta.
Para a professora Maria Lourdes Motter, pesquisadora do Núcleo de Telenovelas da ECA e professora livre-docente da USP, a
aceitação de Amy pelas crianças
pode ser explicada pelo modelo
mexicano, em que os vilões são
pérfidos, com todas as características exageradas. "Essa clareza vai
pegar um público menos exigente
e funciona bem como entretenimento. Por outro lado, o sucesso
dela é lamentável porque o programa não mostra a complexidade do ser humano", afirma.
Motter aponta a identificação
do espectador com o "herói" como um problema. "A novela pode
ser prejudicial porque a criança
vai achar que vai ter sucesso, não
importa que tipo de adversidades
encontrar. Mas isso é fantasia, ela
pode se frustrar muito."
Já a psicanalista infantil, especialista no uso da TV para a infância, Ana Cristina Olmos, acredita
que "tudo o que ajuda a lidar com
a frustração é educativo".
Para ela, a novela consegue a
atenção das crianças por ter intervalos comerciais mais curtos, por
ter uma edição mais lenta, pelo
forte apelo emocional e pelo formato de situações óbvias.
"A "Amy", ainda que estereotipadamente, atinge o mundo infantil fortemente dentro da sintonia de apreensão e de percepção
de sentimento nas crianças. Por
um lado, a novela é primária.
Mas, por outro, está perto dos
sentimentos, das sensações e dos
medos. A TV não tem o poder de
adoecer o espectador, mas também não tem o poder de salvá-lo."
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