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CINEMA
Evento tem início amanhã com longas e documentários que situam as particularidades de ambientes e religiões
Choque de visões marca Festival Judaico
CLAUDIO SZYNKIER
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Marcado fortemente por questões como choque, memória e
convivência, será inaugurado
amanhã o 8º Festival de Cinema
Judaico de São Paulo.
A programação do evento, que
termina no dia 15 e está instalado
em diferentes salas paulistanas,
está dividida em quatro partes: filmes de ficção (entre filmes convidados e filmes em mostra competitiva), documentários (que também competirão), o ciclo "Dois
Olhares, Um Desafio" e a retrospectiva do produtor alemão Artur
Brauner (obras de realizadores
conhecidos, como Andrezj Wajda, estão previstas). Há ainda um
pacote de curtas de animação.
"A distância e a tolerância, incidindo não apenas no âmbito religioso, me parecem questões muito presentes nesses filmes", afirma Daniela Wasserstein, diretora
artística do festival. "Não há aqui
um cinema judaico para a comunidade, meio na linha de esses são
"bons", e aqueles, "maus'; os filmes
problematizam tanto a vida judaica quanto os conflitos atuais, de
forma lúcida. Mostram também
que todas as comunidades, inclusive a judaica, possuem suas particularidades, contradições."
Choque parece ser a senha para
muitos dos filmes da programação. Não exatamente o físico, mas
aquele entre visões, versões e percepções de mundo. O documentário "Atrás das Linhas Inimigas",
do ciclo "Dois Olhares", percorre
Jerusalém no compasso da tensa
discussão entre dois amigos, um
jornalista palestino e um chefe de
polícia judeu especialista em táticas e em movimentos militares.
O projeto do documentário previa que cada um escolhesse pontos pertencentes ao seu ambiente
religioso e cultural, para mostrar
ao outro sua opinião sobre as coisas. Um momento emblemático
ocorre quando os dois vão à casa
do judeu, Benny, uma construção
vistosa e espaçosa, vizinha de propriedades palestinas raquíticas.
Essas propriedades estão separadas da casa de Benny por uma
protetora e metálica cerca. Verbos
acalorados surgem após o amigo
conhecer a dinâmica paisagística
daquela vizinhança.
Boa parte dos filmes de ficção
tratam de outro tipo de choque,
bastante atual no universo judaico: a tradição versus a "assimilação" e o desejo de rompimento
com valores conservadores, sobretudo por parte dos jovens. Um
exemplo é "Bit By Bit". Curiosamente, a tradição é lida no filme
"Sociedade Cemitério" menos como uma força opressora e mais
como chave libertadora.
"Embaixo d'Água" também
sintetiza o choque nas entranhas
da religião: em sua busca por
identidade, uma menina, carente
de amor paterno, se vê diante da
distorção, manifestada nas vias filosófica e física, que se origina da
figura do pai, ultraortodoxo.
A memória, como tema, também é visitada na via do choque.
Em "Vozes de Dachau", destaca-se a imagem de um campo de golfe cercado por arame, provável
resquício do campo de concentração que era aquele terreno décadas antes. Em "Gevatron", a memória surge como dispositivo de
reflexão sobre conceitos como juventude e envelhecimento, exercício da arte e decadência física.
Alguns poderão notar parentesco
entre este filme e "Buena Vista Social Club", de Wim Wenders.
A perseguição aos judeus e o
Holocausto não são temas dissociados do festival. "Passagem Secreta" tenta reconstituir a Inquisição. "Monsieur Batignole" se passa na França de 1942 e viaja o interior campestre do país rumo à
fronteira com a Suíça, que abrigaria crianças judias fugitivas.
O filme "Um Mundo Quase Pacífico" também é contextualizado
na França, porém poucos anos
depois da guerra. Em foco, está
uma alfaiataria e seu cotidiano. A
obra, do veterano Michel Deville
("Dossier 51"), incorpora formalmente, além do sentimento de reconstrução, o alívio que se originou após o fim da guerra.
8º FESTIVAL DE CINEMA JUDAICO.
Onde: Centro da Cultura Judaica (r. Oscar
Freire, 2.500; tel. 0/xx/11/3065-4333;
ing.: um quilo de alimento); Cinesesc (r.
Augusta, 2.075; tel. 0/xx/11/ 3082-0213;
ing.: grátis; retirar com antecedência); A
Hebraica (r. Hungria, 1.000; tel. 0/xx/ 11/
3818-8888; ing.: até R$ 5); MIS (av.
Europa, 158; tel. 0/xx/11/3062-9197;
ing.: grátis; retirar antes). Quando: de
amanhã a 15/8.
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