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TELEVISÃO
Ministro José Viegas (Defesa) dá depoimento condenando o caso no programa, que "não quer amenizar a realidade"
"Linha Direta" recria morte de Zuzu Angel
CLÁUDIA CROITOR
FREE-LANCE PARA A FOLHA, DO RIO
Em vez de anônimos que tiveram parentes assassinados por
um conhecido que hoje é foragido
da Justiça, desta vez é o ministro
da Defesa, José Viegas, quem vai
dar seu depoimento ao "Linha Direta", da Rede Globo.
O programa policial, que vai ao
ar nas noites de quinta com audiências que giram em torno dos
25 pontos no Ibope, vai reconstituir o caso da estilista Zuzu Angel,
morta em abril de 1976 em um suposto acidente de carro no Rio de
Janeiro -as circunstâncias de
sua morte, até hoje não totalmente esclarecidas, apontam para um
assassinato planejado por membros do governo militar. Em seu
depoimento, Viegas condena o
fato e fala das mudanças que
ocorreram nas Forças Armadas.
A história de Zuzu vai ao ar no
próximo dia 27 na edição "Justiça", do "Linha Direta", que retrata
crimes que ficaram famosos. O
assassinato da milionária Dana de
Teffé e da socialite Ângela Diniz já
foram temas de programas anteriores.
Zuzu Angel era uma estilista conhecida internacionalmente que
teve o filho, o ativista político
Stuart Angel Jones, preso, torturado e morto pelo regime militar.
Ele foi tido como desaparecido
por vários anos, nos quais Zuzu
iniciou uma campanha para denunciar torturas e assassinatos
cometidos pelo governo da época.
"Quisemos dar um tom jornalístico à história. Procuramos não
fazer um engrandecimento de
qualquer um dos envolvidos nem
amenizar a realidade", afirma
Milton Abirached, diretor-geral
do "Linha Direta".
Segundo ele, um dos cuidados
do programa -cujo mote é exibir
reconstituições dos crimes, com
depoimentos de envolvidos, parentes das vítimas e testemunhas,
além de incentivar denúncias sobre o paradeiro dos acusados foragidos- foi não mostrar cenas
que pudessem chocar o público.
Segundo depoimento do ex-preso político Alex Polari de Alverga, que teria presenciado a cena, o filho de Zuzu Angel morreu
após ter sido arrastado pela Base
Aérea do Galeão, no Rio, na traseira de um jipe, com o rosto colado no cano de escapamento.
"Para não ficar muito explícita,
a cena é mostrada de uma janelinha, tal como foi vista por Alex.
Não quero ficar repugnando o
público, as histórias já são muito
chocantes", diz Abirached. A cena
do Galeão foi gravada no autódromo de Jacarepaguá.
Alverga, que já contou a história
da morte de Stuart no documentário "Sonia Morta e Viva" (1985),
de Sérgio Waisman, desta vez não
quis dar seu depoimento ao programa. As gravações, que terminaram há uma semana, incluem
depoimentos do escritor Zuenir
Ventura, da jornalista Hildegard
Angel, irmã de Zuzu, do ex-líder
estudantil Wladimir Palmeira e
da cineasta Lúcia Murat, entre outros. Também participa uma das
testemunhas da batida de carro
que matou Zuzu, também reconstituída no programa.
Nenhum dos militares que na
época estiveram envolvidos com
o caso quis falar ao programa.
Na reconstituição, estarão representadas figuras como o ex-presidente Juscelino Kubitschek e
o ex-secretário de Estado dos
EUA Henry Kissinger, a quem a
estilista pediu ajuda para dar visibilidade ao caso do filho e tentar
saber de seu paradeiro.
O "Linha Direta", que normalmente usa atores desconhecidos
nas reconstituições, desta vez colocou Zezé Polessa no papel de
Zuzu Angel. "Achamos que ela
merecia uma atriz de peso", diz o
diretor do programa.
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