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Gramado reforça aposta em "autores"
Repaginado para afastar pecha de fútil, festival gaúcho, que inicia hoje 36ª edição, realiza disputa entre filmes "de diretor"
Competição pelos Kikitos reúne seis longas nacionais; ator Renato Aragão recebe homenagem pela carreira de "campeão de bilheteria"
SILVANA ARANTES
DA REPORTAGEM LOCAL
O Festival de Gramado inicia
hoje a sua 36ª edição, com
uma homenagem ao ator Renato Aragão por sua carreira no
cinema, que soma 47 filmes
e cerca de 120 milhões de
espectadores.
É um reconhecimento do
festival ao fato de Aragão ser "o
campeão nacional de bilheteria", segundo o presidente do
festival e secretário de Turismo
de Gramado, Alemir Coletto.
Contudo, a partir de amanhã,
quando será dada a partida na
mostra competitiva pelos troféus Kikito (veja quadro à dir.),
o perfil dos filmes se distancia
da vocação popular que norteia
os filmes de Aragão.
Preferência
"A nossa preferência é trabalhar com o cinema de autor,
que me parece ser o tipo de filme que pode se beneficiar de
um festival de cinema", afirma
o crítico José Carlos Avellar,
contratado pelo Festival de
Gramado, em 2006, para remodelá-lo num prazo de três anos
-que se esgota agora.
A consultoria foi chamada
para tentar reverter a queda
vertiginosa no prestígio do festival, associado a filmes de qualidade duvidosa e ao pendor excessivo pela futilidade do desfile de celebridades televisivas
no tapete vermelho que conduz
ao Palácio dos Festivais.
Coletto avalia que a opção
curatorial pelo cinema de autor
foi um acerto e diz que ela será
mantida. "O formato está consagrado, por atender de forma
ordenada aos vários segmentos
do cinema. É representativo
dos interesses de público, produtores e distribuidores", diz.
No entanto, o festival não parece ter tido nenhum impacto
no lançamento dos vencedores
de suas últimas edições. Os ganhadores do ano passado
-"Castelar e Nelson Dantas no
País dos Generais", de Carlos
Eduardo Prates, escolhido pelo
júri oficial, e "Deserto Feliz", de
Paulo Caldas, o preferido do
público- permanecem sem estréia no circuito comercial.
Os títulos que dividiram em
2006 o prêmio de melhor filme
-"Anjos do Sol", de Rudi Lagemann, e "Serras da Desordem",
de Andrea Tonacci- não chegaram a 100 mil espectadores.
"Não se deve exagerar as possibilidades que um festival possa oferecer a um filme nem reduzi-las. Esses filmes conseguiram um mínimo de espaço,
com certa ajuda de Gramado. A
chance de que possam a ter visibilidade maior passa pelo festival", afirma Avellar.
Os seis longas nacionais que
disputarão o festival neste ano
foram selecionados entre 43
inscritos, segundo Coletto.
Avellar diz que os filmes estabelecem "uma conversa interna em dois níveis"; um deles relacionado ao "processo de produção e narração", e o outro, a
"questões temáticas".
O curador e consultor do festival diz que, no conjunto de
competidores, há "filmes feitos
em película cinematográfica e
em material digital, com certa
novidade nessa relação".
A novidade seria o uso dos recursos que o formato digital
oferece, como a agilidade, de
modo intrínseco ao filme, e não
numa opção determinada "por
pressão de ordem econômica,
em que o digital é a substituição
de alguma coisa pensada em
película cinematográfica [tecnologia mais dispendiosa]".
A coincidência temática se
encontra, segundo Avellar, na
presença, em mais de um filme,
de "personagens femininos
muito fortes, centrais, protagonistas das histórias".
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