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São Pedro recebe cantata sobre corte portuguesa
JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL
"O Rei que Ninguém Viu" é
uma cantata irônica sobre a
chegada da corte portuguesa ao
Rio de Janeiro, em 1808. A Banda Sinfônica do Estado, sob a
regência de Abel Rocha, a apresenta numa única récita, hoje,
no teatro São Pedro.
O espetáculo estava, em princípio, programado para o Cultura Artística, capaz de abrigar
um público quase duas vezes
maior. Mas, com incêndio do
teatro, na madrugada do dia 17
de agosto, apenas 636 felizardos poderão assistir no São Pedro ao espetáculo com sete solistas vocais, libreto de Mário
Viana e a música de Alexandre
Fracalanza Travassos.
O rei, no caso o então príncipe regente d. João, é aguardado
no cais do porto por um grupo
de cinco brasileiros que têm pedidos a fazer, como a escrava
Caetana, interpretada pela soprano Eliseth Gomes, à espera
da graça real para não ser obrigada a se casar.
Maria 1ª, interpretada pela
também soprano Cláudia Riccitelli, é o único personagem
real visível. Mas é uma rainha
louca -conforme atestam os
historiadores- que nada diz e
apenas grita.
Os demais personagens são
Serafim (o barítono Leonardo
Neiva), Josepha (a contralto
Silvia Tessuto), o Barão (tenor
Bruno Faccio) e Napoleão Bonaparte, um barítono.
Sebastianismo
O maestro Abel Rocha tem
produzido um único espetáculo lírico por ano com a Banda
Sinfônica. Data de dois anos a
última produção especialmente encomendada, "A Tempestade", de Ronaldo Miranda, ópera
baseada em Shakespeare.
O fato de ninguém ver d. João
é, para o libretista Mário Viana,
uma espécie de alegoria das relações dos brasileiros com o poder. "Estamos até hoje à espera
de alguém que possa resolver
nossos problemas para nos elevar à condição de Primeiro
Mundo." Ou seja, um sentimento sebastianista que herdamos dos portugueses "como se
fosse deformação genética".
Napoleão surge na cantata
como uma brincadeira surrealista. Ele não perdoa d. João por
tê-lo enganado -conseguiu escapar de Portugal antes que os
franceses pudessem se apoderar da coroa, a exemplo do que
fizeram com a Espanha.
E há ainda Josepha, uma dama da colônia, ciente de que
perderá seu status, diz Viana, e
será reduzida à sua caipirice,
após sua inevitável comparação com as damas que desembarcam de Lisboa, cheias de novidades e informações.
"O REI QUE NINGUÉM VIU"
Quando: hoje, às 21h
Onde: Teatro São Pedro (r. Barra
Funda, 171; tel. 0/xx/11/ 3667-0499
Classificação indicativa: livre
Quanto: de R$ 20 (balcões) a R$ 40
(platéia)
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