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ARTES PLÁSTICAS
Visitantes da mostra que ocorre em São Paulo recebem dicas e ajuda em roteiros para ganhar tempo
Público aproveita o monitor como guia e "atalho" na Bienal
GUSTAVO FIORATTI
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Um grupo de executivos, não
mais de dez, desloca-se a passos
lentos pelo segundo andar da Bienal, até estacionar em frente a um
trabalho do alemão Thomas Demand, uma foto com cerca de três
metros de largura que retrata o
que parece ser um arbusto.
Entre os visitantes em roupas
sociais circula uma jovem vestida
informalmente de jeans. Posicionada entre o grupo e a obra, dispara: "Na semana passada, vi uma
coisa nesta peça que me agradou.
Queria que descobrissem o que
é". Os executivos se movimentam
em busca de soluções para a charada; nada descobrem. É a hora de
a jovem entrar em ação e revelar o
truque ilusionista do artista: uma
pequena maquete de um arbusto
feito com papel verde foi transformada em objeto de admiração estética por meio do recurso de fotografar e ampliar a imagem.
Com informações qualificadas,
além de técnica para instigar o visitante, a jovem integra o grupo
de 300 estudantes de artes plásticas, design, desenho industrial e
jornalismo contratados pela Fundação Bienal para instruir e guiar
o público através dos mais de 25
mil m2 pelos quais se espalham
obras de 135 artistas que participam da Bienal de São Paulo, aberta até o dia 19 de dezembro.
Do ponto de vista do visitante, o
número grande de monitores,
seus variados tipos de formação,
além dos diferentes graus de instrução (dentro do grupo, há estudantes quase formados e outros
ainda no primeiro ano de faculdade) produzem a impressão de um
serviço desigual em quem visita a
mostra sob a orientação deles.
"Gostei muito da monitoria. O
rapaz que nos acompanhou nos
deu a oportunidade de comentar
as obras. Deixou que as pessoas fizessem suas próprias leituras, formulou questões e só depois deu as
respostas", avalia a professora
universitária Filomena Moita, 56.
Dela discorda o professor de artes Alexandre Othon, 29, para
quem o serviço não correspondeu
à expectativa: "Comecei a visita
acompanhando um monitor, mas
o rapaz passava direto por algumas obras interessantes. Também
tive a impressão de que ele se baseava muito em suas próprias
opiniões e impressões. Não fiquei
nem cinco minutos".
Esse desequilíbrio é reconhecido pelos próprios monitores, que
por sua vez tentam se defender
das críticas. "Muitos de nós não
estão acostumados ao serviço.
Mas as pessoas têm que saber
também que a gente aprende
muita coisa durante a exposição e
que nosso trabalho amadurece
aos poucos", explica Mariana
(nome fictício; os funcionários
presentes em ambos os textos
desta página não são autorizados
pela organização da Bienal a conceder entrevistas).
Segundo a monitora, para que o
serviço seja aprimorado, os monitores participam de reuniões diárias em que podem esclarecer dúvidas e trocar experiências. "Fizemos um curso de três semanas
para poder trabalhar como monitores, mas só entramos em contato com as obras na abertura da
Bienal, há duas semanas."
Além dessa progressão, a organização busca aperfeiçoar as linguagens dos monitores para atender a públicos diversos. Para monitorar os grupos formados com
antecedência, encontram-se estudantes com aptidões específicas.
Alguns gostam mais de lidar com
adolescentes; alguns têm mais jeito com idosos.
Sensibilidade também é essencial para quem monitora grupos
formados pelo público espontâneo (visitantes que chegam individualmente). "Não é simples
adaptar a linguagem para pessoas
de diferentes níveis culturais. Você tem que arrumar um meio-termo", afirma Ricardo.
A expectativa do público sobre
o trabalho dos monitores acaba
moldando o serviço a outras funções. Muitas vezes, eles têm de
exercer o papel de instrutor como
um trabalho secundário.
Alguns visitantes procuram a
monitoria com o objetivo de ver a
exposição em tempo econômico,
e o monitor acaba trabalhando
como indicador de obras importantes. "Eu não tinha muito tempo e, quando entrei na Bienal, não
sabia por onde começar. A monitoria foi excelente", diz a designer
de moda Cristiane Bortoluzzi.
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