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DECORAÇÃO
Para o norte-americano Ron Pompei Casa Cor 2004 apresenta muitos conceitos sem se preocupar com conforto
Arquiteto não se sente em casa na mostra
DIEGO ASSIS
DA REPORTAGEM LOCAL
Muitas idéias e pouco conforto.
Foi essencialmente essa a impressão que o arquiteto norte-americano Ron Pompei, 57, teve durante a visita que fez a pedido da Folha à exposição Casa Cor 2004.
Entre as principais críticas do
arquiteto, responsável entre outros pelo design interior de lojas
como Levi's, Urban Outfitters e
Anthropologie, nos EUA, estão o
excesso de objetos -conseqüência de uma maior presença de patrocinadores nesta edição- e a
falta de diálogo entre eles.
"Há tantos conceitos diferentes
sendo apresentados de uma só
vez que eles começam a competir
uns com os outros", resumiu
Pompei, cuja principal proposta é
justamente criar espécies de "colagens tridimensionais" que levem o visitante a se sentir "culturamente integrado" no ambiente.
"O problema não é misturar
coisas de modo eclético, mas é necessário muita sensibilidade para
isso", afirmou. "É necessário os
olhos de um artista para misturar
estilos, materiais, tecidos para que
tudo pareça harmonioso."
O primeiro "choque" estético
do americano foi logo no primeiro cômodo oficial da casa, uma
mansão do Morumbi de 2.900 m2
construída na década de 70 e mais
tarde transformada em um pequeno clube de luxo. "Há algo de
esquizofrênico aqui. Os materiais
não têm relação entre si, são pesados, extremamente dramáticos",
disse referindo-se ao hall de entrada criado pelo arquiteto paulista Léo Shehtman.
Na sala de estar, projetada por
Marcelo Rosenbaum, Pompei
também se sentiu incomodado.
"O quarto é pequeno demais para
algo desse tamanho", falou, em
referência aos grandes sofás modulares de veludo, que ocupam
boa parte do espaço da sala. As
paredes, que mantêm a pintura
inacabada, chegaram perto do
gosto do americano: "Parece algo
bom para alguém que tem crianças em casa. Mas eu não penduraria tantas coisas, deixaria o espaço
livre para que as paredes fossem
desenhadas e repintadas. Seria
um bocado divertido".
Apesar do criticismo, quase todo ele voltado para a justaposição
de texturas opostas, como um forro de bambu contra um piso de
pedra polida ali, uma estante moderna contra uma penteadeira
tradicional acolá, o arquiteto
americano disse que daria uma
nota sete à exposição completa.
"Não quero parecer implicante.
Uma das coisas difíceis em uma
mostra desse tipo, que é quase um
showroom, é ser uma oportunidade única para esses profissionais. As pessoas tendem a querer
colocar tudo o que puderem, têm
medo de editar e deixar algumas
coisas de fora", avalia. "Parece haver também uma presença forte
do merchandising. Essa aproximação do comercial com o artístico, a obrigação de usar todas
aquelas informações, muitas vezes atrapalha o arquiteto."
Entre os destaques positivos
desta que é a 18ª edição da Casa
Cor, Pompei incluiu o spa de João
Armentano, a sala de cinema de
Roberto Migotto, o café de Sig
Bergamin e a piscina, decorada
pelo paisagista Gilberto Elkis.
"A área da piscina é coerente
com os jardins. A gente tem de se
lembrar de como o nosso olho fica maravilhado com a natureza.
Pedra, madeira, cerâmica, todas
essas coisas juntas com a água."
Para ele, o uso de materiais reciclados e ecologicamente corretos
foi outro dos acertos do evento.
Coordenada pela dupla de arquitetos Deborah Stock e Gustavo
Horta, a Casa Cor 2004 fica aberta
à visitação até o próximo 2 de novembro. São ao todo 85 ambientes, criados por profissionais de
todas as partes do país.
CASA COR 2004. Onde: marginal
Pinheiros, km 14,5, Morumbi, SP, tel. 0/
xx/ 11/3819-1411. Quando: de ter. a
dom., das 12h às 20h. Até 2/11. Quanto:
R$ 30. Estudantes com carteira da UNE e
UBES e maiores de 60 anos pagam meia.
Grátis para crianças de até 12 anos.
Estac.: R$ 15.
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