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CRÍTICA
"Cócegas" - A Missão; de cult, virou indústria
MARCELO RUBENS PAIVA
ARTICULISTA DA FOLHA
"E aí , foi todo mundo
pra praia. Eu, a Laura,
a Helena, a Dumbo, a Teti, a
Titi, a Bi, a Su, a Rô e a Roberta Fragoso Pires de Melo.
E de garoto tava o Flávio, o
Pedro, o Tuca, o Daniel Lima, o Daniel Ferreira e o
Paulinho. Simplesmente,
TODO MUNDO!" Assim
Tati começa uma conversa
telefônica com, "tipo assim",
sua melhor amiga.
É o esquete mais popular
de "Cócegas". A simpatia é
tanta, que a platéia rola de rir
na simples enumeração dos
nomes. Tati acha a sua mãe,
de 35 anos, a "maior velha" e
repete "caraca" e "fala sério"
diversas vezes, na cena protagonizada por Heloísa Périssé e dirigida por Sura Berditchevsky, que ganhou versão no "Fantástico".
Por que se ri tanto dessa
cena? Há empatia (identificação), o público se reconhece ou reconhece alguém da
família? Muitas perguntas se
fazem depois do sucesso de
uma peça. Mas só há uma
certeza: ele não é previsto.
"Cócegas" não pára de
render. A proeza das duas
atrizes cômicas, Ingrid Guimarães e Heloísa, autoras,
produtoras e atrizes do espetáculo de uma seqüência de
nove esquetes humorísticos,
não tem precedentes no teatro brasileiro: lota quando
quer, onde quiser, agrada da
família Abravanel à Sandy.
Qual o segredo? Uma dica
é a química entre as atrizes,
que ensaiaram "Cócegas" na
casa de Ingrid, rindo uma da
outra, até uma vizinha perguntar do que tanto riam.
Certa vez, criaram uma coreografia e ficaram três dias
rindo. A dupla se conheceu
na Oficina de Humor, promovida pela Globo, em que
juntaram comediantes para
temperar o programa de
Chico Anysio. Tal encontro
pode ter inspirado um dos
esquetes, "Pinto e Pingüim",
em que duas atrizes nos camarins de um programa infantil resolvem pelo celular
problemas como a infiltração na casa de uma delas.
Outra explicação para o
seu sucesso é a essência do
espetáculo, que aponta comicamente as trapalhadas e
esforços de mulheres modernas, que tentam ser dona-de-casa, mãe, provedor
da grana e que ainda têm
que se divertir. Tem da professora de ginástica, que costura a camisa do marido enquanto dá aulas, à antítese
da mulher contemporânea,
a miss Mossoró, Ph.D. em filosofia e física, mas que quer
ser reconhecida apenas como uma mulher gostosa.
Dias antes da estréia, Ingrid andava pelos bares do
Leblon insegura, consultando os amigos sobre seu projeto. De cult virou indústria.
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