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ARTES
Visitação a museus e igrejas detentores de obras sacras históricas aumenta com interesse gerado por festa religiosa
Páscoa motiva "peregrinação" cultural
ALEXANDRA MORAES
DA REDAÇÃO
LUCRECIA ZAPPI
FREE-LANCE PARA A FOLHA
A cada ano o milagre se repete.
A cerimônia da ressurreição de
Cristo culmina com igrejas iluminadas pelas velas dos fiéis, à meia-noite. Até o início do século 20,
nas procissões, Cristos e Madalenas eram suspensos nos cortejos.
Mas hoje eles não costumam mais
sair. Ficam nas igrejas e museus à
espera de seus visitantes.
A diretora do Museu de Arte Sacra de São Paulo, Mari Marino,
diz que a instituição costuma receber na Páscoa cerca de 30% de
visitantes a mais do que nos demais feriados -com exceção do
Natal, quando, segundo Marino,
o número de freqüentadores do
museu chega a dobrar.
Para o período da Páscoa, o museu procura evidenciar os passos
da Paixão e da ressurreição de Jesus Cristo. "O interesse é muito
grande, o público do museu demanda mais explicações", diz a
diretora, que destaca das cerca de
4.000 obras do MAS a "Nossa Senhora das Dores" de Antônio
Francisco Lisboa, o Aleijadinho
(1730-1814), "uma das mais requisitadas para exposições fora".
Outros destaques, segundo Marino, são a "Maria Madalena", de
Francisco Xavier de Brito, do século 18, "Espírito Santo", do século 17, e "Nossa Senhora da Luz",
do 16, a mais antiga do acervo,
que dá nome ao bairro do museu.
Mas ver arte sacra nas igrejas da
cidade significa acompanhar de
perto o discurso artístico religioso
em seu próprio contexto. Um dos
símbolos culturais de poder e
prosperidade que cruzam séculos
de Brasil colonial e imperial, a
Igreja de São Bento, pertencente
ao mosteiro de São Bento, tem algumas imagens que revelam o valor estético religioso paulistano.
Duas imagens na igreja, uma de
São Bento e outra de sua irmã, a
Santa Escolástica, chamam a
atenção do pintor e monge Carlos
Uchôa, morador do próprio mosteiro há oito anos: "Essas duas esculturas foram feitas quando
houve a ampliação do mosteiro e
da igreja, em 1650, através de uma
doação de Fernão Dias", diz.
O autor das estátuas de barro é o
frei Agostinho de Jesus, aluno do
frei Agostinho da Piedade (1600
ou 1610-1661), professor do mosteiro de São Bento da Bahia.
Na pintura, o monge recorda os
afrescos de Frei Jesuino do Monte
Carmelo (1764-1819), do século
18, na Igreja da Ordem Terceira
do Carmo, construída em 1804.
Carlos Lemos, professor de História de Arquitetura da Faculdade
de Urbanismo e Arquitetura da
USP e especialista em arte sacra
de SP, cita as imagens de barro
dos bandeirantes como grande
destaque dos séculos 17 e 18.
Lembra também os retábulos
primitivos na igreja do Sítio de
Santo Antônio, em São Roque.
"São muito interessantes. É uma
releitura de um retábulo erudito."
O sítio pertenceu ao bandeirante
Fernão Paes de Barros.
Mas a grande expectativa desta
Páscoa, ironicamente, é uma crucificação, a "Crucificação de Cristo", um óleo sobre madeira com
moldura original, de autoria de
Jan van Dornicke (1470-1527). A
obra do renascimento flamengo é
a mais nova doação ao Masp, vinda da Colnaghi Gallery de Londres e avaliada em mais de US$ 1
milhão. Além dessa, José Roberto
Teixeira Leite, professor de História da Arte da Fundação de Instituto de Ensino para Osasco e professor aposentado da Unicamp,
recomenda "A Virgem em Lamentação", de Hans Memling
(1435-1494). Ambas serão vistas a
partir de terça no Masp, na mostra "A Crucificação de Cristo e o
Renascimento Nórdico".
O universo artístico-religioso
paulistano tem uma relação quase
automática com o passado, com
poucos exemplos atuais. Uchôa
cita as pinturas de Fulvio Pennachi (1905-1992), a serem vistas na
Igreja da Paz, no largo do Glicério.
Outro exemplo de expressão
moderna dentro da temática sacra são, segundo Uchôa, algumas
telas de Alfredo Volpi (1898-1988), que, como Pennachi, pertenceu ao grupo Santa Helena, no
início dos anos 30. Volpi realizou
pinturas e vitrais para a Capela do
Cristo Operário, no Jardim da
Saúde. A construção e suas obras
foram tombadas em março pelo
Condephaat, órgão de defesa do
patrimônio histórico de SP.
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