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Estudo prevê que consumidores de cultura gastem em 2008 o equivalente a 2 vezes o PIB nacional; no Brasil, expansão do mercado de entretenimento será mais modesta, devido à pirataria
Indústria cultural crescerá mais que economia mundial
SÉRGIO DÁVILA
DA REPORTAGEM LOCAL
Todos os dias, a paulistana Sandra Bezerra, 18, deixa sua casa no
Tatuapé para enfrentar 40 minutos de ônibus e metrô até seu trabalho. Uma das quatro meninas
de uma família de oito filhos, ela é
bilheteira da recém-aberta sala
HSBC Belas Artes, na esquina da
Paulista com a Consolação, na região central de São Paulo.
Sandra pode não saber, mas toda vez que vende um ingresso ou
mesmo quando, nos horários de
folga, dá uma espiada nos filmes
que estão em cartaz -"adorou"
"Cazuza - O Tempo Não Pára",
que teve de assistir "a prestação",
um pedaço por folga-, está contribuindo para uma das indústrias, a do entretenimento, que
mais devem crescer no mundo.
Na verdade, segundo estudo feito pela PriceWaterhouse Coopers
e divulgado na semana passada,
intitulado "Global Entertainment
and Media Outlook - 2004-2008",
a previsão é que nos próximos
quatro anos o setor cresça mais
do que se prevê que crescerá a
economia mundial em geral.
Será um aumento médio de
6,3% ao ano, ante um crescimento econômico global previsto de
5,7%, segundo números do Banco
Mundial, da própria PWC e da
Wilkofsky Gruen Associates.
Ou seja, no geral, a cultura vai
estar melhor do que os países.
Originalmente, o estudo da empresa de auditoria multinacional
é dividido em receita gerada pela
publicidade e aquela gerada diretamente pelos consumidores e
engloba 14 segmentos, entre eles
os de mídia (jornais, revistas, rádio), acesso à internet e os diretamente ligados à cultura, como cinema e indústria fonográfica.
A pedido da Folha, foi feito um
corte que levasse em conta apenas
os gastos dos consumidores e
apenas nestes setores culturais,
que totalizam oito categorias. O
resultado é que aqui a receita global pulará dos atuais US$ 607,2 bilhões (em 2003) para US$ 807,7
bilhões em 2008, com crescimento médio ainda maior, de 6,8%.
É muito dinheiro e muito crescimento. Para ter uma idéia, alguns
setores da economia estimam que
o crescimento do PIB brasileiro
em 2004 será em torno de 3,5%. E
o total de dólares que os consumidores de cultura do mundo todo
gerarão em 2008 equivale a quase
duas vezes este PIB (Produto Interno Bruto, total de riquezas produzidas) hoje.
Uma região e uma atividade puxam a caravana da alegria: a Ásia e
o videogame. "Liderada pela China e pela Índia, que estão fazendo
investimentos importantes, essa
região vai ser a que mais crescerá
nos próximos cinco anos, atingindo 9,8% ao ano", disse Marcel Fenez, vice-presidente da PriceWaterhouse para a região.
Já o videogame literalmente explodirá, segundo o estudo. Será
uma indústria que passará dos
atuais US$ 22,3 bilhões para US$
55,6 bilhões em 2008, com uma
taxa de crescimento anual de incríveis 20,1%. "E isso é só o começo", acredita André Vaisman, diretor do programa televisivo "G4
Brasil" e especialista do setor (leia
texto nesta página).
Enquanto isso, no Brasil...
A Folha teve acesso aos números relativos especificamente ao
Brasil, até então inéditos. Aqui,
tanto a indústria quanto sua expansão são mais tímidas -para
começar, os números são expressos em milhões, não bilhões-,
mas ainda assim expressivas.
"A avaliação é que o mercado
passou por muita turbulência,
mas a economia voltará a crescer", disse Tim Leonard, responsável de entretenimento e mídia
da PWC para a América Latina.
Assim, de acordo com os dados
do levantamento, depois de ter
saltado 17% em 2003 em relação
ao ano anterior, principalmente
devido ao boom do cinema nacional, a bilheteria brasileira total
cairá 4% neste ano, mas chegará a
2008 com uma média positiva de
crescimento de 3,8% no período.
"A América Latina tem uma característica peculiar entre as regiões pesquisadas", afirma Leonard. "Aqui o grosso do faturamento da indústria cinematográfica vem dos ingressos, e não do
aluguel e da venda de vídeos e
DVDs, diferentemente de nos
EUA, por exemplo, em que esta
última atividade já domina."
Para ele, isso se deve à pirataria
da região, "algo comentado com
bastante ênfase no relatório". Pelo
que ouviram os auditores, diz ele,
não se espera que esse problema
seja resolvido tão cedo. "Principalmente no Brasil e no México."
Neste caso, quem já andou pelo
centro da cidade de São Paulo pode dar rosto aos números. Na semana passada, em frente à praça
da República, foi oferecido à reportagem da Folha um DVD de
"Kill Bill 2", o segundo capítulo
do filme de Quentin Tarantino
com estréia nos cinemas prevista
apenas para outubro no Brasil.
Custava R$ 10 (ante R$ 15 de um
ingresso num cinema de shopping center e R$ 45 de um DVD de
um título novo) e vinha com um
cartão de visitas do vendedor pirata, com direito a nome e telefone. Nele, explicitada a garantia do
produto: "Não devolvemos o dinheiro, trocamos a mercadoria.
Filmes, desenhos, shows. Só lançamentos". Não era mentira.
Em sua banca, ao lado de "Kill
Bill", sucessos atuais das telas como "Homem-Aranha 2", que acaba de estrear, "Shrek 2" e "O Dia
Depois de Amanhã". Durante o
período em que a reportagem esteve lá, houve duas correrias entre
os camelôs, causadas pela presença de fiscais da prefeitura.
O estudo
O estudo da PriceWaterhouse
Coopers está em sua quinta edição, mas desde 2001 não tinha alcance global. "É a primeira vez,
também, que a América Latina é
incluída", disse Tim Leonard, do
escritório brasileiro. "Minha insistência ajudou", brincou.
Foram estudados 58 países de
cinco regiões, denominadas EUA,
EMEA (Europa, Oriente Médio e
África, na sigla em inglês), Ásia/
Pacífico, Canadá e América Latina. Nesta, foram analisados Brasil, México, Argentina, Chile, Colômbia, Uruguai e Venezuela.
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