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Bethânia recebe Shell e lembra Caymmi
Cerimônia de entrega do prêmio teve show da cantora
CAIO JOBIM
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DO RIO
Coube a Maria Bethânia ser a
primeira intérprete a receber o
Prêmio Shell de Música em sua
28ª edição -até o ano passado,
apenas compositores eram elegíveis. Ao recebê-lo no palco do
Vivo Rio, anteontem à noite,
declarou-se comovida por terem reconhecido em seu trabalho "alguma criatividade, alguma assinatura".
Embora o Shell seja um prêmio que leva em conta o conjunto da obra, não há dúvida de
que o momento atual da carreira da cantora foi decisivo para a
escolha dos jurados. Desde que
trocou a Sony BMG pela Biscoito Fino, em 2002, Bethânia se
embrenhou em uma viagem
pelas musicalidades do Brasil
remoto -interiorano, caipira,
sertanejo, litorâneo-, onde foi
buscar canções novas, esquecidas, desconhecidas ou à margem de uma MPB predominantemente urbana.
"Brasileirinho" (2004) é, ao
mesmo tempo, ponto de partida e síntese desse rumo. Foi
com uma música dele que Bethânia abriu o show de celebração à conquista do prêmio. Embora seja recente, "Yáyá Massemba", de seu conterrâneo
Roberto Mendes e do poeta Capinam, soa como um samba ancestral, embalado pelo "batuque das ondas no porão de um
navio negreiro".
Retrospectiva
A apresentação incluiu uma
retrospectiva de sucessos de
sua carreira. Do irmão Caetano
Veloso, Bethânia cantou "O
Nome da Cidade", "O Quereres", "Não Identificado" e "Reconvexo"; de Chico Buarque,
"Olhos nos Olhos" e "Minha
História". Não faltaram "Explode Coração", de Gonzaguinha, e "Ronda", de Paulo Vanzolini, ambas de "Álibi" (1978),
o primeiro disco de uma cantora brasileira a vender mais de 1
milhão de cópias.
"Uma cantora não pode receber um prêmio sozinha. Para
tudo o que fiz, tudo o que faço,
tenho que contar com inúmeras pessoas, inúmeros artistas",
disse nos agradecimentos, que
se estenderam a seus pais, Zeca
e Dona Canô, e aos professores
de seu colégio em Santo Amaro
da Purificação, na Bahia. "Escola pública", fez questão de ressaltar, lembrando que, nos seus
tempos de estudante, "era a
melhor que tinha".
Dorival Caymmi, morto no
mês passado aos 94 anos, foi
lembrado em suíte instrumental que uniu "Temporal" e "Sargaço Mar", seguida de interpretação de "João Valentão". Em
"Doce", de Roque Ferreira, Bethânia cantou: "Toda palavra
linda que a Bahia tem, de santo,
comida e amor, foi o canto de
Caymmi que embelezou".
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