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O jogo da vingança
Divulgação
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Cena do filme "Old Boy" (2003), do diretor coreano Park Chan-wook, que conta a história de um homem que, após ficar prisioneiro por 15 anos, busca vingança |
No violento "Old Boy", que estréia hoje, o diretor
coreano Park Chan-wook foca a desforra como tabu
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PHILIPPE PIAZZO
DO "MONDE"
O filme "Old Boy", de Park
Chan-wook, é uma espécie de
cruzamento punk de Alexandre
Dumas com mangás e com "Um
Corpo que Cai", de Hitchcock.
Humor, violência, habilidade técnica espantosa -estamos na seara de Tarantino e De Palma. Leia a
seguir entrevista com o diretor.
Pergunta - "Old Boy" relata uma
maquinação inacreditável. Seu filme anterior, "Sympathy for Mr.
Vengeance", já era muito violento
e tratava do tema da vingança. Por
que essa obsessão?
Park Chan-wook - Porque a vingança ainda é vista como tabu pela sociedade, e acho interessante
que o cinema mostre aquilo que
não pode ser mostrado e exprima
aquilo que devemos reprimir em
nosso cotidiano. Em meu filme
"J.S.A.," era preciso transgredir as
fronteiras coreanas, geograficamente falando, o que já equivale a
transgredir as leis e os limites.
Pergunta - O sexo é um desses tabus?
Park - De maneira alguma. Mas
o incesto, sim. Um tabu é a expressão de um desejo, e, portanto,
a arte deve desempenhar um papel. Mas eu não procuro a transgressão a qualquer custo. É sobretudo o sentimento de culpa que
eu queria combater. Queria procurar saber se existe uma maneira
de deixarmos o sentimento de
culpa de lado e nos sairmos bem.
Mesmo que saibam que vão fracassar e ser derrotados, meus personagens lutam e nunca desistem.
É por isso que talvez consigam alcançar uma certa forma de graça.
Pergunta - É uma graça na destruição?
Park - Isso é a engrenagem. Todos os personagens terminam por
tomar consciência de sua culpa.
Não sentem orgulho de seus pecados; é isso que os torna humanos,
e acabam se tornando amáveis.
Para mim, reencontrar essa humanidade é reencontrar a graça.
Pergunta - E seu mau humor?
Park - Ele explode porque eu
quero mostrar até onde a raiva e o
ódio podem nos levar. Conheço
um diretor cujo produtor o infernizou a tal ponto que ele, por conta própria, cortou a cena mais bonita que tinha rodado, para que
seu filme não fosse sucesso. A vingança implica um movimento autodestrutivo. É isso que eu penso,
por exemplo, das relações entre os
EUA e o Iraque. Do ódio não pode
nascer outra coisa senão o ódio.
Pergunta - Em seu filme se diz
que a vingança faz bem à saúde...
Park - Mas o que o personagem
não diz (e que o filme mostra) é
que, para ele, é preciso que a vingança permaneça ao nível do desejo. Se ela se realiza, não há mais
nada, e a vida perde o sentido. Saciar sua sede de vingança significa
destruir o lado humano. No filme,
esse homem, após a morte de sua
irmã, voltou ao estado de menino
pequeno e reduziu sua sede de
vingança. O reverso da medalha é
que ele parou de crescer.
Pergunta - E, ao manter sua vítima presa dentro de um quarto por
15 anos, ele também suspendeu a
vida dos outros. A essa loucura no
tema de "Old Boy" corresponde o
tema musical dessa valsa ao mesmo tempo obsessiva e inebriante
que ouvimos sem parar. É como se
fosse impossível evoluir, também
no que diz respeito à música.
Park - É um filme de movimentos incessantes, que quer fazer você sentir seus tormentos como
lembrança e virar sua cabeça do
avesso. É essa a razão dessa música contínua, como um fluxo de
tempo, impossível de parar, que
se modula com ritmos diferentes:
valsa, tango, tecno. Há uma variação do tema musical quando se
trata de esquecer o passado, e outra quando é questão de hipnose,
além de ainda outra quando o herói se desdobra. Nesse último caso, eu a mixei como se fosse uma
marcha fúnebre. Cada passo corresponde, pelo avesso, um ano da
vida do herói.
Pergunta - "Old Boy" é ao mesmo
tempo um filme de aventura, um
filme de amor, um filme noir e um
filme psicanalítico. O que mais?
Park - No fundo, já pensei muitas vezes que, à nossa maneira, estávamos fazendo um western.
Tradução Clara Allain
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