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"CORAÇÃO DE FOGO"
Diretor uruguaio ironiza idealismos, mas prega no deserto
SYLVIA COLOMBO
EDITORA DO FOLHATEEN
Dá para definir "Coração de
Fogo" de duas maneiras:
1. Simpática fábula antiimperialista que arranca choro fácil ao
mesmo tempo em que ironiza o
idealismo de gerações passadas.
2. O pequeno Uruguai encara a
ingerência externa. Para construir
essa alegoria, entretanto, o filme
recorre a nada menos que quatro
protagonistas argentinos e, ainda,
à co-produção do gigante vizinho.
Com um atraso de dois anos, este que foi um verdadeiro blockbuster nos países do Rio da Prata
finalmente estréia nas salas de cinema do Brasil.
O filme narra a romântica saga
de três idosos, ex-funcionários do
sistema ferroviário do Uruguai.
Inconformados com a venda de
uma velha locomotiva para produtores de cinema de Hollywood,
eles roubam a máquina e saem
pelas desérticas vias férreas do
país, enquanto divulgam sua causa: "El patrimonio no se vende".
O roteiro é fraco, mas se apóia
no talento de veteranos como
Héctor Alterio ("O Filho da Noiva"), que faz um cardíaco que não
quer morrer sem cometer antes
um ato de nobreza, e Federico
Luppi ("Lugares Comuns"), um
maquinista que fantasia ter lutado
na Guerra Civil Espanhola.
É pouco, porém, para compensar a falta de bons diálogos, essenciais quando a ação se passa quase
toda dentro de uma locomotiva.
Assim como "Whisky", o mais
recente sucesso do cinema uruguaio, "Coração de Fogo" lança
um olhar para a crise do país e a
conseqüente decadência de seu
padrão de vida com uma nostalgia mordaz misturada a uma aceitação risonha dos fatos.
É só reparar no Professor, que se
vê pregando contra o capitalismo
para cavalos e crianças de escolas
rurais, pois já não há mais ninguém para ouvir essa mensagem.
O filme resvala no melodrama e
exagera na caricatura. Esses, porém, são instrumentos essenciais
para o retrato melancólico do
Uruguai que Arsuaga compõe.
Curiosamente, o mesmo Uruguai que, pouco depois do filme,
elegeria um presidente de esquerda e tiraria o pó de figuras e de discursos políticos da mesma época
cheia de idealismos que produziu
esses três personagens.
Pelo menos no caso do filme, sabemos que os trilhos que seguiam
não levariam a lugar nenhum.
Coração de Fogo
Corazón de Fuego
Direção: Diego Arsuaga
Produção: Argentina/Uruguai, 2002
Com: Federico Luppi, Héctor Alterio,
José Soriano, Gastón Pauls
Quando: a partir de hoje no HSBC Belas
Artes
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