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Período de exílio do autor será tema de tese na Itália
DA REPORTAGEM LOCAL
A órbita de Chico Buarque se
estende a outros países, e não é só
pelo nomadismo dos CDs e das
traduções de seus livros mundo
afora. O período em que passou
na Itália, auto-exilado após o decreto do Ato Institucional nš 5
(1968) no Brasil, inspirou o pesquisador italiano Luca Bacchini,
29, a focar em Chico sua tese de
doutorado.
Sediado no departamento de estudos americanos da Universidade de Roma 3, Bacchini pretende
defender, em "Francesco-Francisco - Chico Buarque de Hollanda e a Itália", que seu país desempenhou papel decisivo na
formação do artista.
Diz que esse papel se anunciou
nos dois anos que o Chico menino
passou com a família na Itália,
nos anos 50, para se consumar
nos meses de exílio em 69-70.
Afirma Bacchini, em entrevista por e-mail à Folha: "O
período italiano marcará uma decisiva
maturação da personalidade de Chico,
cidadão de um agudo espírito crítico que
começará a emergir nos
artigos escritos como correspondente italiano do
"Pasquim" e em canções
como "Samba e Amor",
"Apesar de Você", "Agora
Falando Sério" e "Samba
de Orly", compostas em
Roma, mas pensando no Brasil
do regime de exceção".
O pesquisador inverte o espelho
e fala também sobre a relevância
de Chico na Itália: "Sua importância para a cultura italiana foi enorme, apesar de que, como artista,
ele não conseguiu fazer grande
sucesso por aqui. A sua foi uma
presença sedutora para o mundo
artístico e cultural italiano. Ele
nos revelou um Brasil diferente
daquela clássica imagem estereotipada de país exótico".
Bacchini diz que a passagem pela Itália provocou o nascimento
de uma geração de "artistas ítalo-brasileiros" -cita Lucio Dalla,
Sergio Endrigo, Fiorella Manoia e
Enzo Jannacci.
Sua pesquisa passa a abranger
também episódios cotidianos da
fase italiana, descrita por ele como
de insucesso e dificuldades. "Na
verdade, Chico só fazia sucesso
enorme com "A Banda", conhecida graças à versão italiana de Mina. Ele não era conhecido pelo nome, mas como o cantor brasileiro
que era "autor de "A Banda"." "Por isso, em vários
shows, a dupla Chico-Toquinho acabava cantando coisas feito
"Mamãe, Eu Quero" e marchinhas
de Carnaval, para agradar o público", relata,
emendando à
história a rápida
passagem de
Chico pelo
Mentana, um time italiano de
futebol da terceira
divisão.
Como atividade
paralela à de sua
tese, Bacchini
também coordena
um número especial todo dedicado
a Chico na revista
acadêmica local
"Letterature d'America", que antes
só se debruçou sobre escritores
como Mário de Andrade, Jorge
Amado e Carlos Drummond de
Andrade.
Entre os ensaístas convidados,
quase todos brasileiros, estão Renato Janine Ribeiro, Adélia Bezerra de Meneses e Heloísa Starling.
Bacchini já esteve no Rio entrevistando pessoas ligadas a Chico. O
objeto de seu trabalho em pessoa,
no entanto, ainda não o atendeu.
(PAS)
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