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Cineastas reclamam de falta de espaço; público adolescente aprova o esquema atual
A audiência contra-ataca
IVAN FINOTTI
DA REPORTAGEM LOCAL
Preparando-se para o lançamento do premiado "Amarelo
Manga", em 15 de agosto, o produtor Paulo Sacramento anda
preocupado não apenas com o
número de cópias, o endereço das
dez ou 12 salas em que a fita será
lançada em três capitais ou como
conseguir uma verba maior para a
publicidade. Atualmente, com a
massacrante tendência de os
blockbusters tomarem o maior
número de salas nos fins de semana de estréia, Sacramento tem que
torcer para não ser literalmente
atirado para fora de cartaz.
"É angustiante olhar os filmes
que vão estrear na semana seguinte ao nosso. Ficamos torcendo para não pegarmos um desses
limpa-trilhos que abocanham todos os cinemas da cidade", diz o
produtor e também diretor do
festejado documentário "O Prisioneiro da Grade de Ferro".
"É muito comum que os filmes
nacionais cresçam na segunda ou
na terceira semana, ao contrário
dos blockbusters americanos. Da
forma atual, o brasileiro acaba
saindo das salas antes de acontecer." Ainda mais num mercado
que usa o boca a boca como um
dos instrumentos principais de
marketing. "E o boca a boca depende de o filme ficar algumas semanas em cartaz. É terrível."
Ugo Giorgetti, produtor e diretor de "O Príncipe", acredita que
o cineasta brasileiro muitas vezes
lança o filme do jeito que dá, sem
tanta preparação. "No meu caso,
quando o filme está pronto, já estou exaurido por escrevê-lo, dirigi-lo, montá-lo etc. No lançamento, vou procurar o quê? Procuro o
que está disponível no mercado."
Giorgetti diz que poderia ter seguido o esquema dos blockbusters com seus filmes. "Um erro
que cometi há alguns anos foi
com o "Boleiros". Poderia ter tido
muito mais público se tentasse a
tática dos blockbusters, que saem
com centenas de cópias."
Já Marcelo Masagão ("Nós Que
Aqui Estamos, Por Vós Esperamos") defende a reserva de mercado. "Quando eu lanço um filme,
trabalho com duas cópias. Daí dá
para ter uma idéia de como esse
movimento dos blockbusters afeta. Temos que criar vergonha na
cara e proteger nosso terreninho,
nossa cota de tela."
Se têm opiniões diferentes como cineastas, Sacramento, Masagão e Giorgetti concordam quando vêem o problema como espectadores. "Estava curioso para ver
esse filme do Spike Lee, "A Última
Noite", e não consegui. Não fui rápido e acho que eles foram rapidíssimos em tirá-lo de cartaz", diz
Giorgetti. "Eles vão fazendo um
extermínio gradativo dos filmes,
colocando em horários difíceis,
em cinemas distantes."
Sacramento também perdeu
meia dúzia de fitas nos últimos
tempos. "O número de salas aumenta, mas a diversidade está cada vez mais comprometida."
Nesses casos, tem que ser como
Masagão: "Sou rápido quando há
um lançamento interessante. Se
você esperar, vai dançar mesmo.
A tecnologia possibilita uma diversidade maior, não só para
blockbusters. Mas para ver esses
filmes idiotas, não adianta. Exijo o
direito à diferença."
Ditadura adolescente
O problema é que diversidade
não parece interessar à legião de
adolescentes que tomam os shoppings nos fins de semana. "Fui ver
"X-Men 2" e estava passando em
três salas. Assim não precisa pegar muita fila", diz o estudante
Rodolfo Bruno Braz, 17.
Com ingressos de "Hulk" na
mão, as irmãs Daniela e Cristina
Barros, de 16 e 18 anos, não parecem preocupadas com a rapidez
com que os filmes saem de cartaz.
"A gente vai ao cinema todo fim
de semana. Se não trocarem os filmes, o que a gente vai ver?", perguntam, se programando para assistir a "As Panteras Detonando".
Quanto ao cinema nacional, ele
parece condenado pela "ditadura
adolescente": "Não conheço muito cinema brasileiro", diz Rodolfo
Braz. "O último que assisti foi
"Central do Brasil", que eu não
gostei nem um pouco. O pessoal
está falando bem do "Carandiru".
Talvez eu vá assistir".
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