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ANÁLISE
O que menos mudou foi a publicidade
INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA
O que mudou não foi a publicidade. Mudou o modo de
exploração dos filmes, mudou o
cinema, o público de cinema, as
salas. O mundo. O que menos
mudou foi a publicidade.
Desde que David W. Griffith
lançou "O Nascimento de uma
Nação", e já faz quase 90 anos, não
há um produtor que desconheça a
importância do impacto, de um
traço original que torne seu filme
único aos olhos do espectador.
Esse traço não precisa ser saudável. Em "O Nascimento...",
Griffith defendia a temível Ku
Klux Klan e sabia que seu filme seria o estopim de conflitos raciais.
Fez um sucesso estrondoso.
Décadas depois, no início dos
anos 60, Alfred Hitchcock andava
amargurado com o fracasso, total
ou relativo, de seus filmes. Realizou "Psicose" com pouco dinheiro, no maior segredo, e preparou
seus espectadores para sentirem
um medo sem fim. No lançamento, proibiu que as pessoas entrassem com o filme já iniciado. E pedia a quem já o tivesse visto que
não contasse o que se passava na
tela. Sucesso estrondoso.
Não estranhemos, portanto, o
trabalho de marketing que caracteriza os blockbusters e o enorme
barulho que fazem: é sua única
chance de existir. No tempo de
Griffith ou de Hitchcock, o critério de sucesso era o número de semanas em cartaz. Hoje, é o público do primeiro fim de semana.
TV e jornais são bombardeados
com números como o total de bilheteria nos EUA, no Brasil, Cingapura etc. Pode-se pensar que
tudo isso é muito misterioso: qual
o interesse em saber que o filme
feito por US$ 10 milhões já rendeu
o dobro se a minha parte na produção continua sendo zero?
É assim que funciona. O espectador quer saber que, quando se
desloca ao cinema, participa de
um evento coletivo. Se tantas pessoas viram, deve ser bom. O raciocínio não faz a diferença. A questão é colocar o espectador dentro
do cinema. Para tanto pode-se recorrer a trucagens, cores, cinemascopes, ou, ainda, atores.
No passado, cinema era não só a
maior, mas praticamente a única
diversão. Hoje concorre com TV,
internet, parques aquáticos. É
preciso que os filmes circulem
-com 20 dias, um longa já é senhor provecto. Pior: anacrônico.
Goste-se ou não, é como acontece, hoje, no cinema de massa.
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