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ARTES PLÁSTICAS/"ARTE DA ÁFRICA"
Fragmentação de coleção esconde o sentido originário
FELIPE CHAIMOVICH
CRÍTICO DA FOLHA
"Arte da África" é uma
mostra ambígua. Apresenta objetos relevantes de culturas complexas, mas esconde o sentido originário devido à fragmentação do conjunto mostrado
pelo Centro Cultural Banco do
Brasil (CCBB) de São Paulo.
O acervo provém do Museu Etnológico de Berlim. Fundado em
1873, tal organismo se beneficiou
da partilha do continente africano
entre os impérios europeus a partir da Conferência de Berlim, em
1884. A maioria das peças enviadas foi adquirida durante o período colonial, antes da Segunda
Guerra Mundial.
A coleção dissocia os itens individuais do complexo material no
qual foram gerados, apesar das
explicações acompanhando cada
peça. A seção das máscaras apresenta somente as caras talhadas,
partes de fantasias rituais de corpo inteiro. A curadoria indica o
fato, agregando quatro filmes de
cerimônias que envolvem tais objetos; em "Baule, Costa do Marfim" (1968), vemos a máscara
"Kplekple" exibida na sala, só que
usada com seu traje completo.
Contudo o destaque desses adereços lhes confere interesse autônomo. O isolamento da cabeça bifronte da República dos Camarões concentra a atenção sobre os
olhos vazados: placa oblonga furada com prego.
Entre o século 16 e o 20, a participação da África nas rotas de comércio oceânico impulsionou as
mudanças advindas do intercâmbio. As dez placas em relevo do
palácio real de Benin (séc. 16 a 18)
retratam a corte, portugueses e
animais em latão.
A matéria-prima era obtida
com a venda de escravos e marfim
nos entrepostos costeiros da atual
Nigéria. A frontalidade estilística
deriva da cópia de xilogravuras
européias. Considerados tesouros
etnográficos de grandes museus,
como o Britânico, esses revestimentos foram saqueados durante
a invasão de Benin pelos ingleses,
entre 1897 e 1899.
A diversidade técnica é notável.
Vemos desde o entalhe fino dos
cabelos da "Máscara Gelede", até
a mescla entre modelagem e escultura na "Máscara de Líder".
Um mesmo uso pode resultar
em objetos tão distintos quanto as
estátuas de gêmeos enfileiradas
no segundo andar. A alma dos gêmeos era tida como uma só. Caso
morresse um dos irmãos, garantia-se a permanência do sopro de
vida no sobrevivente pela confecção de um substituto do morto,
que deveria ser tratado como parte da família.
As questões éticas da mostra são
explicitadas em textos de painel,
enfrentando-se desafios atuais da
museologia. O percurso é claro e
bem distribuído.
Arte da África
Onde: CCBB (r. Álvares Penteado, 112,
centro, SP, tel. 0/ xx/11/3113-3651)
Quando: de ter. a dom., das 10h às 21h;
até 28/3
Quanto: entrada franca
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