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Orçado em US$ 2 milhões, o espetáculo musical "Chicago" estréia em SP em abril
Cabaré da fama
VALMIR SANTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Ela mesma, corpo e rosto disputados por novelas e capas de revistas, Danielle Winits, 30, lança
contraponto ao afirmar que a notoriedade pode ser indicativo de
"doença" nos tempos em que
show e realidade se confundem.
"Hoje, o foco está na celebridade instantânea. Eu mesma mato
um leão por dia. Não é à toa que
estou aqui", diz a atriz.
"Aqui" é o terceiro dia de ensaios para o espetáculo musical
"Chicago", na quarta-feira passada, em São Paulo. Winits será
uma das protagonistas, a sedutora vedete Velma Kelly, no auge da
carreira. Passos em falso, porém,
levam a personagem à prisão,
acusada de assassinato. Idem para
outra dançarina com quem divide
a cela, Roxie Hart (Adriana Garambone), que radicaliza em seu
sonho de estrelato. Roxie contrata
um advogado, Billy Flynn (Daniel
Boaventura), que lhe promete as
páginas dos jornais. Oportunista,
tampouco Flynn poupará charme
(e poder) para chegar à fama.
É o ponto de partida da história
escrita pela jornalista americana
Maurine Dallas Watkins (1896-1969), inspirada em fatos (dançarinas de cabaré detidas sob acusação de assassinato em 1924, numa
Chicago tomada pelo crime organizado) e alçada a espetáculo musical em 1975 na Broadway, criação do diretor e coreógrafo americano Bob Fosse (1927-1987), com
letras de Fred Ebb e música de
John Kander.
A montagem atual, que reestreou em 1996, sofreu modificações pela viúva de Fosse, a atriz e
dançarina Ann Reinking.
"Chicago" também ganhou versão para o cinema em 2002, sob
direção de Rob Marshall. No elenco, Renée Zellweger, Catherine
Zeta-Jones e Richard Gere.
O sétimo grande musical da CIE
Brasil, vinculada à multinacional
mexicana de entretenimento, que
opera no país desde 1999, atravessou a primeira das cinco semanas
de ensaios num teatro alugado na
região do Bexiga.
São um total de 23 atores-cantores-bailarinos e 14 músicos. Orçado em US$ 2 milhões (cerca de R$
5,8 milhões), o espetáculo tem
pré-estréias de 22/4 a 28/4 e estréia para o público em geral no
dia 29/4.
Nas roupas de ensaio para música, coreografia e interpretação,
já domina o preto dos futuros figurinos. Nesta primeira fase, são
seis horas diárias de trabalho. A
maioria dos artistas foi selecionada em audição com cerca de 300
candidatos (3.000 currículos).
Parte dos atores e equipe técnica
ouvida pela Folha, a maioria de
produções anteriores da CIE, tem
a percepção de que "Chicago" os
coloca num grau a mais de exigência pelo despojamento.
Ao contrário de "A Bela e a Fera" (2002), produção anterior da
empresa, aqui os efeitos, quando
existem, decorrem da iluminação
ou essencialmente da movimentação do coro. Não há maquinários, figurinos pesados. "É dança e
canto puros, por isso mais completo e exigente para o intérprete", diz o diretor da divisão de teatro da CIE Brasil, Jorge Takla, 52.
"Vamos dar a cara a tapa todos
os dias", afirma Daniel Boaventura, 33, um amante do jazz que toca
saxofone desde os 16 anos.
Em "Chicago", a música de arranjos sofisticados interage o
tempo todo como um personagem-chave. Os instrumentistas
não ficam no fosso, mas no centro
do palco, ao fundo. Em algumas
cenas, o maestro Miguel Briamonte irá contracenar com os
protagonistas, em intervenções
breves.
"O espetáculo musical serve
mais ao meu lado cantora, nos
shows, do que eu propriamente a
ele. Quem dita aqui é a personagem", diz Selma Reis, intérprete
da vilã Mama, uma carcereira (todas as letras em inglês versam em
português). O mais recente disco
de Reis, "Vozes", o sétimo, é um
dueto com Cauby Peixoto.
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