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Selton Mello "nasce" melancólico
Estreando na direção com "Feliz Natal", o ator lança mão da "data obrigatória" para tratar de reencontro familiar
Na exibição do filme em Paulínia, o novo diretor pediu aos seus fãs que esquecessem seus trabalhos na frente das câmeras
SILVANA ARANTES
ENVIADA ESPECIAL A PAULÍNIA (SP)
Uma legião de fãs do ator Selton Mello, 35, lotou o Teatro
Municipal de Paulínia (1.350
lugares), na noite da última
sexta, para conferir "Feliz Natal", sua estréia como diretor de
longas.
"As pessoas não me conhecem, na verdade. Conhecem
meus personagens", diz Mello.
Por isso ele pediu à platéia:
"Tentem esquecer o que apresentei nesses anos todos como
ator. Estou nascendo hoje".
O nascimento do cineasta
Selton Mello foi coroado, no sábado, com o troféu de melhor
diretor. "Feliz Natal" disputou
o 1º Festival Paulínia de Cinema com outros seis longas de
ficção (leia texto ao lado).
Na sexta, 30 pessoas da equipe que realizou "Feliz Natal"
(com R$ 2,4 milhões de orçamento) subiram ao palco com
Mello, para apresentar o filme.
Entre elas, o diretor destacou a
atriz Darlene Glória (de "Toda
Nudez Será Castigada").
"Minha Gena Rowlands, minha Bette Davis, minha musa,
voltando ao lugar de onde nunca devia ter saído -o centro de
uma tela de cinema. Darlene
Glória é a alma do meu filme."
Mércia, a personagem dela
em "Feliz Natal", tem a alma
fraturada. Mãe de dois filhos,
separada do marido (Lúcio
Mauro), vive escanteada na casa da nora (Graziella Moretto).
No Natal da família que o filme acompanha, Caio (Leonardo Medeiros), o caçula de Mércia, retorna, após quatro anos
ausente e com as emoções feridas por um episódio trágico. É
no choque do reencontro de
Caio com os parentes e amigos
que "Feliz Natal" se concentra.
"O final de ano para mim é
sempre uma melancolia sem
precedentes", diz Mello, que
aniversaria em 30 de dezembro. "O Natal é uma data obrigatória, na qual você tem que
encontrar pessoas que não
quer. Num deles, me ocorreu
fazer um filme em que o Natal
desse o tom", disse.
Com poucos diálogos e uma
câmera (de Lula Carvalho)
atenta aos olhares e aos pequenos gestos dos atores, o filme
revisita uma linhagem de autores de cinema que Mello admira, como o norte-americano
John Cassavetes e o brasileiro
Luiz Fernando Carvalho, que o
dirigiu em "Lavoura Arcaica",
adaptação do livro homônimo
de Raduan Nassar.
Foi citando outra obra da
dupla Carvalho/Nassar que
Selton Mello entregou seu longa ao público: "O filme se completa agora, com o olhar de vocês. "Que seus olhos sejam
atendidos" [título de um documentário anterior à "Lavoura
Arcaica']".
Pronto
Mello diz sentir-se "pronto"
para também atuar em seu segundo filme como diretor. Em
"Feliz Natal", ele assina também o roteiro (com Marcelo
Vindicatto), a montagem (com
Marília Moraes) e a produção
(com Vânia Catani). O filme
tem estréia nos cinemas prevista para 21 de novembro.
No próximo longa, no entanto, Mello volta a ser "apenas"
ator. A partir do mês que vem,
ele interpretará o eletricista
Jean Charles de Menezes, assassinado pela polícia inglesa
numa estação de metrô em
Londres, em 2005.
Com produção de Stephen
Frears (diretor de "Minha
Adorável Lavanderia") e parte
dos R$ 8 milhões de seu orçamento subsidiada pelo governo britânico, "Jean Charles"
será "um filme sobre a diáspora brasileira", segundo seu diretor, Henrique Goldman.
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