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Autor revela a selva dos abastados
Primo rico
CARLOS HAAG
FREE-LANCE PARA A FOLHA
O escritor americano Scott Fitzgerald (1896-1940) escreveu que
os ricos eram, sim, diferentes de
você e de mim. Eles tinham mais
dinheiro. A resposta pode satisfazer os cínicos, mas não o jornalista Richard Conniff, autor de "A
História Natural dos Ricos", que,
com bom humor exemplar, defende a tese de que pessoas com
mais de US$ 5 milhões pertencem
a uma subespécie cultural: o Homo sapiens pecuniosus.
Não adianta revirar o seu Darwin, pois ela não está lá. A "descoberta" de Conniff, no entanto, não
deixa de levar em conta a observação "em campo" de como se comportam os milionários e de que
maneira eles são tão parecidos,
não com você ou comigo, mas
com os macacos.
Na raiz de tudo está o desejo de
dominância, característico daquilo que os biólogos chamam de
macho-alfa, o manda-chuva de
um bando. Daí mesmo a mania
geral de ajustar-se a uma hierarquia social que nos dê um senso
de segurança por meio de um prazer todo especial de servir àqueles
que estão no topo. Em suma, para
Conniff, tudo o que nos aproxima
dos símios está mais realçado
quando se trata de gente rica.
Assim, muito executivo de fala
arrogante e Armani reluzente, para o autor, não é lá muito diferente do gorila de costas prateada das
florestas africanas que dominam
os outros com seus gritos e a sua
presença impressionante.
Mas nem só de urros vivem os
ricos. Eles também podem ser
gentis e filantrópicos. Como Ted
Turner ao doar US$ 1 bilhão para
a ONU; um comportamento que
lembra uma ave africana que alimenta seus pares inferiores (dominância pró-social) apenas para
demonstrar a sua soberania. Segundo Conniff, uma regra dourada para quem quer se parecer
com um macho-alfa dominante é
justamente doar muito.
Mas quem não gosta de ser paparicado? Jack Welsh, o ex-CEO
da GE, por exemplo, tinha uma
casa mantida pela empresa dos
chefes de cozinha do tipo de papel
higiênico que usava. O mesmo
privilégio dado aos machos-alfa
dos chimpanzés, que, da mesma
forma que o executivo, sofrem ao
perder a "boquinha".
Nem sempre eles agem como os
animais: a princesa Stephanie de
Mônaco, por exemplo, não esconde suas ligações amorosas com
"subalternos". Mas até mesmo
nos detalhes eles tendem a se
comportar como os animais que
são: Conniff, irônico, ressalta como JP Morgan ou mesmo o kitsch
Donald Trump cultivam suas sobrancelhas fartas, que lhes dão
um olhar ameaçador, o mesmo
atributo dado pela natureza às
chitas, nas savanas. Até mesmo o
desprezo dos magnatas antigos
pelos novos-ricos repete um padrão biológico: entre os gorilas
das montanhas, novos ingressantes no grupo que desejam aparecer demais são imediatamente espancados e expulsos. Os ricos humanos são mais magnânimos: em
vez de porrada, desprezo.
Por fim, o básico de sempre: ricos têm mais e melhores mulheres. Por mais feios que sejam.
Onassis era definitivo: "Do que
me adiantaria nadar em dinheiro
se não existissem mulheres no
mundo?". Da mesma forma, na
natureza, os símios-alfa conseguem as melhores fêmeas. Jack
Welsh, careca e baixinho, deu a
receita em seu livro: "Ser rico é ganhar uns 15 cm de altura e uma
vasta cabeleira".
"A HISTÓRIA NATURAL DOS RICOS" -
Autor: Richard Conniff. Editora: Jorge
Zahar. Quanto: R$ 45 (344 págs.).
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