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"Problema é o repasse de recursos", diz Cunha Lima
DA REPORTAGEM LOCAL
Jorge da Cunha Lima, que administra a TV Cultura, reuniu sua
diretoria para falar à Folha sobre
a situação da emissora.
Leia a seguir trechos da entrevista que ele concedeu, ao lado de
Manoel Luiz Luciano Vieira (diretor-superintendente), Carlos Novaes (cientista político, consultor
da instituição), Marco Antônio
Coelho (jornalismo) e Walter Silveira (programação).
(FV, FF e LM)
Folha - A TV Cultura gasta mal o
dinheiro que recebe do Estado?
Jorge da Cunha Lima - A gente
gasta muito bem o pouco dinheiro público que recebe. Quando o
dinheiro é pouco, a gente sempre
gasta menos do que precisa. O
problema da TV Cultura não é de
gestão. É de modelo de repasse de
recursos da sociedade.
Folha - Qual é o centro da crise?
Cunha Lima - É necessário encontrar um modelo de repasse
mais estável. A receita própria está no limite. Devemos buscar recursos na sociedade, como apoios
culturais, prestação de serviços e
parcerias. Uma hipótese seria pedir ao cidadão autorização para
debitar na sua conta telefônica,
por exemplo, recursos para a TV
Cultura [a proposta será apresentada ao conselho amanhã].
Folha - Quando começaram os
problemas financeiros?
Manoel Luciano Vieira - Em 94, a
situação era grave. Não haviam sido recolhidos INSS e FGTS. Ficamos reféns dessa dívida.
Carlos Novaes - Essa gestão descobriu uma dívida de R$ 26,2 milhões, em dezembro de 95, e já pagou R$ 60,4 mi [dívida corrigida].
Estão sendo negociados para os
próximos 12 anos mais R$ 23 mi.
Cunha Lima - A privatização de
serviços públicos obrigou a fundação a arcar com custos antes escamoteados. No Brasil, instituições, até privadas, não pagavam
contas de luz, telefone e água.
Folha - Como foram os investimentos nos últimos anos?
Cunha Lima - Houve vontade do
governo de nos dar recursos para
investimentos em 2000, 2001 e
2002. Só que o volume previsto foi
contingenciado. A exceção foi em
1999, quando os R$ 4 milhões
programados foram dados.
Folha - E para este ano?
Cunha Lima - Em dezembro de
2002, havia uma dotação orçamentária de R$ 89,9 mi. Em janeiro, houve queda de arrecadação
no Estado e um contingenciamento do investimento. Os recursos foram reduzidos a R$ 80,3 mi.
Fizemos as demissões [250] previstas no plano estratégico. Pretendíamos que a economia com o
corte revertesse para nós e que o
custo fosse pago pelo governo [o
que não ocorreu, segundo ele].
Folha - Como enfrentarão isso?
Cunha Lima - Temos que recuperar esse dinheiro. Senti no governador compreensão e boa vontade para resolver a questão conjuntural. Mas ele disse que investimento só sairá na medida em
que a economia se recuperar.
Folha - Como o sr. avalia as críticas da secretária da Cultura, Cláudia Costin, sobre a sua gestão?
Cunha Lima - A secretária tem
formação forte de administração
pública e uma crença na idéia de
organizações sociais inspirada no
Bresser [Luiz Carlos Bresser Pereira]. Respeito isso. Só acho que é
preciso garantir a independência
da instituição e recursos.
Folha - Está em jogo o seu cargo?
Cunha Lima - Está se dando mais
valor aos não-problemas. O problema real são os investimentos.
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