|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
VIDA NOTURNA
De fãs de black music a sadomasoquistas, clubes paulistanos atraem público segmentado com temática variada
Novos projetos dividem noite em "nichos"
ADRIANA FERREIRA
DO GUIA DA FOLHA
Por onde poderia circular um
rapaz vestido de couro da cabeça
aos pés, apenas com os olhos e os
lábios à mostra, puxando uma garota presa por uma corrente no
pescoço, usando os mesmos trajes? Até pouco tempo, eles só não
seriam alvo de chacota se estivessem em uma festa à fantasia ou
em um encontro de fetichistas.
Como o caso deles é o segundo
-eles são adeptos do sadomasoquismo-, a dupla encontrou seu
espaço no mauricinho Itaim Bibi,
onde está instalado o clube Exxex,
que abriga desde julho a festa
mensal 69 Fetish for Fun.
Na pele de (nomes fictícios)
Mestre Cyrus, 36, e Savana, 34,
eles explicam que não são um casal, mas um "dominador" e uma
"escrava". "Participamos de festas particulares em locais secretos", conta Savana, ajoelhada no
chão, depois de receber permissão do mestre para responder à
pergunta. "Freqüento a festa [Fetish] porque aqui posso circular
tranqüilo", diz Cyrus.
Como a Fetish for Fun, que estreou em março, nos últimos quatro meses São Paulo ganhou outros dez novos projetos. Notícia
desse tipo costuma acelerar o coração dos baladeiros, mas, antes
de sair de casa, é bom avaliar qual
a turma que estará na festa para
não se transformar num deslocado, em vez de se sentir descolado.
Botequeiros
O fotógrafo Leonardo Soares,
21, não lembra qual foi a última
vez em que esteve em uma casa
noturna. Ele é dos que trocam
qualquer top DJ por uma cerveja
no boteco. Se tiver música ao vivo,
melhor. "Estou aqui por causa da
banda. Ouço música brasileira e
rock", conta ele, que, no último
domingo, assistia ao show do grupo DonaZica, no Avenida Club.
A noite quinzenal DonaZica
Com-Vida foi lançada em julho,
para atrair o público jovem. O lugar abriu há 20 anos, com programação dedicada aos roqueiros,
mas acabou assumindo vocação
para casa de dança de salão e é freqüentado por quarentões. "Aqui é
o único local com essa mistura de
idades", diz a historiadora Amanda Cardoso, 25.
Outro projeto é o Dois em Um,
que recebe bandas independentes, como os grupos Numismata e
Mombojó, que tocam hoje. "O
bar Avenida já foi referência e está
ressurgindo", acredita o economista Luis Fernando Novais, 43,
que freqüenta o clube há dez anos.
Noites democráticas
Se a idéia é sair do gueto, então o
destino são as noites de black music -um dos poucos gêneros em
que o público de baixa e alta renda
se misturam. O Exxex faz hoje a
segunda edição da noite Fufi
Funk di Fino, com DJ Hum e convidados, e o Mood Club, em Pinheiros, abandonou a música eletrônica para se dedicar à black. A
novidade lá é a The Joint, às terças, com o MC Cabal e os DJs Will
Robson e Marquinhos da Pesada.
O público do Mood é de jovens
de 20 e poucos anos, e a discotecagem passa por hip hop e estilos
como breakbeat e two-step, com
participações de cantores e MCs.
Na próxima terça, a Joint recebe o
DJ inglês Pogo, que lança um
mixtape com bases suas e freestyle (improvisação) do MC Cabal.
Noites como a Pista de Prata
-às quintas, no restaurante Bop
Bistrô Eletrônico-, na Vila Madalena, atraem gente de longe, como Marcos Souza, 22, que sai do
Campo Limpo para ouvir a black
retrô dos DJs Hum, KL Jay (Racionais MC's) e Rodrigo Audiolandro (Mamelo Sound System).
"Venho aqui desde que o DJ
Hum começou a tocar. Acho o
público legal, diferente", conta
Souza, que acompanha o tio, Luiz
Manuel de Oliveira, o DJ Bolinha.
Na mesma noite, circulavam as
amigas Daniela Melo, 29, e Fernanda Purchio, 28, que fazem o
circuito preferido das patricinhas
e costumam avaliar a melhor relação "custo-benefício". "No [clube] Heaven se gasta R$ 70 de consumação, mas você bebe mais. Na
Disco uma vodca com energético
custa R$ 34 e para a gente, que toma cinco, não dá", conta Daniela.
Clima amigo
Para os descolados em geral, faz
toda a diferença saber quem estará na festa antes de sair de casa. A
noite perfeita deve ter clima de
"reuniãozinha" e o DJ, de preferência, ser um amigo. A Platinum,
que desde julho ocupa o ampgalaxy, às sextas, tem essa cara.
Na pista, o DJ Edu Corelli toca
electro, house e flash house. No
lounge, DJs amigos tocam para os
amigos, que têm um microfone à
disposição para mandar recados e
falar bobagens.
Outro clube que tem tradição de
colocar amigos nos pick-ups, o
GLS Ultralounge, no Jardins, estreou em junho o projeto Total
Glam. A decoração, incrementada com dezenas de bexigas cor de
rosa, e o som -house, com Felipe
Venâncio e Renato Cecin- caiu
no gosto do povo da moda.
Em proporções maiores também há a Toy, festa GLS itinerante
com edições mensais e discotecagem de house e tech-house.
Funkeiros modernos
De olho na onda que dominou o
Rio, o clube Lov.e, na Vila Olímpia, inaugurou a primeira noite
da cidade dedicada ao funk carioca, com o DJ Marlboro nos pick-ups. O Pancadão, nome do evento
quinzenal, despertou a libido dos
modernos, que rebolam ao som
de hits como "Egüinha Pocotó".
Marlboro faz questão de trazer
dançarinas cariocas para reproduzir o clima dos bailes funk do
morro e divide a pista com convidados. Na próxima quarta, ele recebe o coletivo Apavoramento
Sound System, também do Rio.
Na quarta seguinte (dia 25), o
Lov.e recebe os clubbers que perderam a casa underground Susi in
Transe, no centro, e seu principal
DJ, Julião. Ele é o residente da noite Inter Breaks, de breakbeats,
sempre com convidados.
Texto Anterior: Mônica Bergamo Próximo Texto: Audiovisual: Projeto depende da aprovação de Conselho Índice
|